The Glockenwise

É um álbum algo milagroso, esta estreia dos barcelenses The Glockenwise. Porque, apesar da tenra idade, estes quatro rapazes têm as ideias no sítio e sabem como as pôr em prática. Os Glockenwise sabem que há uma linha invisível que une as aventuras dos primeiros "rockers", a electricidade e a vertigem dos Stooges e o neoprimitivismo rock'n'roll do punk de 1977 - putos a transbordar de tédio, a fazer dele motor para algo grande, mais próximo de uma transcendência qualquer, putos como eles, Glockenwise, agitadores em terra de pouca agitação.

É nessa (sempre excitante) linha que os barcelenses caminham, com um à vontade surpreendente para rapazes na casa dos 20 anos. Em alguns momentos, "Building Waves" recorda como a leva de 1977 do punk (o punk quando tomou consciência que era punk) é uma escola de pop pegadiço como há poucas. Ouça-se "Scumbag", frenesim rockeiro de três acordes apontado às ancas, locomotiva em movimento rumo a um refrão que não é muito mais do que um grito ("Scumbag!"). "Goodbye" mostra a banda numa correria, a repetir "Goodbye" como se o disco fosse acabar ali (não acaba, infelizmente - há ainda um dispensável exercício vagamente psicadélico).

Noutras canções, namoram com a euforia ébria do garage rock e derivados. "Love" lembra o rock gingão dos Weird War com Nuno Rodrigues a sacar um falsete que não ficaria mal se saído da boca de Ian Svenonius. "Local song for local people", curioso momento blues punk, parece feita para um decadente bar de beira de estrada - e para esta imagem tanto valem as estradas nacionais portuguesas como as americanas. "Building Waves" está a poucos passos de ser um grande disco rock. Não chega lá, mas tem óbvio prazer a tentar.

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