Tire-se o chapéu a Clint Eastwood: hoje, só mesmo o veterano realizador conseguiria convencer um grande estúdio de Hollywood a embarcar num filme adulto e pensativo sobre a vida e a morte, parcialmente legendado e sem estrelas de primeira grandeza no elenco, nos antípodas completos das receitas supostamente infalíveis que os estúdios insistem em reciclar.
"Outra Vida" tem muito mais a ver com o cinema de personagens que Hollywood ainda sabia fazer quando Eastwood se impôs como actor, e só isso já justifica o interesse neste peculiar drama de câmara sobre três personagens (uma jornalista francesa, um operário americano, um miúdo londrino) cujas vidas são transformadas pela proximidade da morte. É, claro, impossível não olhar para o filme sem ter uma sensação que este reflexão é grata ao realizador, tornando-o num "pendant" esotérico de "Gran Torino". Mas, dê lá por onde der, há um lado demasiado esquemático na construção do guião de Peter Morgan ("A Rainha"), uma sensação de uma narrativa incompleta ou insuficientemente desenvolvida, que Eastwood filma com bonomia e carinho pelos seus actores mas sem nunca resolver as fraquezas de um guião mais entusiasta que acabado. Não é filme em piloto automático como o anterior "Invictus", mas não fica como um Eastwood "vintage".