A dança contemporânea portuguesa vai a França
O coreógrafo Tiago Guedes é o primeiro a entrar em cena, já hoje, com um ciclo-relâmpago no novo Centre Pompidou de Metz
Tiago Guedes no Pompidou de Metz, Marlene Freitas e a dupla Elisabete Francisco/Teresa Silva no Vivat La Danse de Armentières, António Pedro Lopes e Rita Natálio no Festival Artdanthe de Vanves, Tânia Carvalho nos Rencontres Choréographiques Internationales de Seine Saint-Denis: ao longo dos próximos meses, a novíssima dança contemporânea portuguesa vai estar em peso em França. O movimento pendular não é novo (França tem sido uma escala fundamental no processo de internacionalização da criação coreográfica nacional), mas a concentração é invulgar. "Allons enfants", então: Tiago Guedes, que está a partir de hoje no Centre Pompidou-Metz com um ciclo-relâmpago, é o primeiro a sair.
E o que faz ele em Metz, nesta fase em que não tem nada de novo para mostrar (a sua última criação, Coisas Maravilhosas, teve estreia em 2008 - e em França, precisamente)? "O programa Instantané Tiago Guedes não é uma retrospectiva, é uma mostra dedicada ao meu trabalho que incide particularmente nas peças em que o cruzamento com as artes plásticas está mais presente: Matrioska (2007), Um Solo (2002) e Materiais Diversos 2003)", explica o coreógrafo ao P2. O flash Tiago Guedes vai mais longe: para tornar mais produtiva a aproximação à obra do criador português, haverá dois workshops (o primeiro já amanhã, dirigido para o público em geral, a partir do espectáculo infantil Matrioska, e outro com os alunos da École Nationale Supérieure d"Arts de Nancy) e uma conferência pelo crítico do PÚBLICO Tiago Bartolomeu Costa.
"Agrada-me esta ideia de mostrar o meu trabalho numa perspectiva mais alargada. E o Pompidou de Metz é um sítio fantástico, porque tem uma ideia de programação muito virada para os cruzamentos das artes performativas com as artes visuais", sublinha Tiago Guedes. Olhar para trás e ver as três peças à distância de todos estes anos tem, de resto, um valor acrescentado até para ele: "É uma boa altura para reavaliar o que tem sido o meu trabalho e a sua recepção a nível internacional, particularmente em França. Estou numa fase em que todo o meu trabalho como criador está a ser reequacionado, porque tenho andado muito ocupado com tarefas de programação e de gestão cultural que exigem a minha dedicação a 200 por cento", diz, referindo-se ao Festival Materiais Diversos, de que é director artístico, e à projectada instalação de um centro de residências artísticas em Minde.
Aquilo que Tiago Guedes fez entre 2002 e 2008 é, portanto, tudo o que há: o coreógrafo está oficialmente em modo pausa e não há novas criações à vista, o que "é bom": "Detesto a sensação de estar preso a uma coisa. O meu trabalho artístico sempre esteve em constante mutação."
Co-produzir lá fora
Tânia Carvalho, pelo contrário, está num momento particularmente produtivo da sua carreira como coreógrafa. Icosaedro, a peça que se estreará a 29 de Abril na Culturgest, e que depois estará nos Rencontres Choreógraphiques Internationales de Seine Saint-Denis (5 e 6 de Maio), é, com um elenco de 20 intérpretes, a sua mais ambiciosa produção até à data. "Há quatro anos que quero fazer esta peça, mas até aqui foi impossível. Como a minha peça anterior, De mim não posso fugir, paciência, rodou bastante lá fora, aproveitei os contactos internacionais para reunir apoios", explica. Teria sido impossível financiar uma peça desta escala só em Portugal: "A maior parte do dinheiro vem todo lá de fora." Icosaedro viajará muito, de resto: para Berlim, Dresden e Barcelona, pelo menos.Première Impression, de Marlene Freitas (29 de Janeiro), e Leva a mão que eu levo o braço, de Elisabete Francisco e Teresa Silva (3 de Fevereiro), também serão lanças em França, no Vivat La Danse, onde estarão lado a lado com criações de Boris Charmatz, Christian Rizzo e Anne Teresa de Keersmaeker. E a 1 de Março, no Artdanthe, Measure it in inches, de Marianne Baillot, António Pedro Lopes e Rita Natálio, mostra-se num festival por onde passam também Lia Rodrigues, Alain Buffard e Jérôme Bel.