Papa condena ataques a cristãos e pede ao Paquistão que revogue lei da blasfémia
O Papa exortou ontem o Paquistão a revogar a lei da blasfémia e pediu aos governos dos países maioritariamente muçulmanos mais empenho na protecção das minorias cristãs contra ataques violentos.
Na audiência anual com os diplomatas acreditados no Vaticano, Bento XVI condenou os ataques contra igrejas que fizeram dezenas de mortos no Egipto, Iraque e Nigéria. Apelou também à liberdade religiosa na Arábia Saudita, onde os cristãos não podem rezar em público, e na China, que força os católicos a aderirem à igreja oficial. "A influência de uma religião num país não deve significar que os cidadãos que pertencem a outra religião podem ser discriminados na vida social ou, pior ainda, que a violência contra eles seja tolerada", afirmou.
O Vaticano está especialmente preocupado com a situação no Médio Oriente, onde uma série de atentados, combinados com duras restrições, estão a fomentar o êxodo de cristãos. Aos diplomatas presentes na audiência, representando 170 países, o Papa disse que os atentados recentes no Egipto e Iraque mostram "que é urgente adoptar medidas para proteger de facto as minorias religiosas".
É raro o Papa aproveitar uma declaração para pedir especificamente a um país que mude determinada lei, mas ontem desafiou o Paquistão a "revogar a lei da blasfémia, mais que não seja porque ela serve de pretexto a actos de injustiça e violência contra as minorias religiosas". O apelo surge uma semana após Salman Taseer ter sido assassinado a tiro pelo seu guarda-costas. O governador da província de Punjab era um feroz opositor da lei que prevê a pena de morte por insultos ao profeta Maomé ou ao islão.
A polémica sobre este diploma reacendeu-se em Novembro, quando um tribunal condenou à morte Asia Bibi, cristã e mãe de quatro filhos, num caso que expôs as profundas divisões num país de 170 milhões de pessoas, onde o islão sunita é dominante. Para os políticos liberais e grupos de defesa dos direitos humanos a lei discrimina as minorias religiosas que subsistem no país. Mas o caso de Asia transformou-se num catalisador para a direita religiosa do país, que juntou multidões nas ruas contra a tentativa de rever uma lei que consideram essencial para o carácter islâmico do país.
O Papa - que marcou uma cimeira de líderes religiosos pela paz, em Outubro, na cidade de Assis - disse no mês passado que os cristãos são hoje o grupo religioso mais perseguido e considerou inaceitável que tantos tenham a sua vida ameaçada apenas por praticarem a sua religião.