Mutilação é "uma mensagem que o agressor quer deixar"
Renato Seabra terá confessado que matou e mutilou Carlos Castro, no quarto do 34.º andar do Hotel Intercontinental, em Nova Iorque, avançou ontem o tablóide norte-americano New York Post. Segundo o mesmo jornal, o jovem modelo justificou a mutilação dizendo que queria livrar Carlos Castro, de 65 anos, de "demónios homossexuais".
O que leva um agressor a mutilar a vítima? "A mutilação tem sempre um carácter simbólico e de retaliação", aponta o psicólogo clínico e professor Américo Baptista, da Universidade Lusófona, que começa por dizer que ainda é cedo para fazer avaliações a este caso concreto. Por exemplo, em determinadas culturas, aos ladrões é-lhes cortada uma mão, para que não repitam, exemplifica.
"O facto de existir mutilação geralmente faz parte de uma mensagem que o agressor pretende deixar", aponta Rui Abrunhosa Gonçalves, especialista em psicologia forense da Universidade do Minho.
O professor recorda o caso de Lorena Bobbitt, que, em 1993, castrou o marido porque este lhe era infiel. Ao mutilá-lo, a mulher quis transmitir-lhe que jamais poderia repetir a infidelidade. "Neste caso, não sei", diz.
"Ódio era grande"
Abrunhosa Gonçalves calcula que, no quarto do hotel de Times Square, a mutilação terá sido feita depois da vítima estar inanimada ou morta. "Teria de estar imobilizada; caso contrário, reagiria", explica. Os dois investigadores assumem que, a confirmar-se, a acção de Renato Seabra funcionou como uma retaliação e que todos os sentimentos envolvidos neste acto são negativos.Desconhecendo se Castro, de 65 anos, e o modelo de 21 anos teriam uma relação amorosa, o investigador do Minho especula e diz que a mensagem que Seabra quis deixar "pode ser uma de muitas". Por exemplo, se Carlos Castro estivesse a pressioná-lo para ter relações sexuais, Seabra poderia "querer dar-lhe uma lição". "Mas porquê chegar àquele ponto de violência?", questiona-se. "Era preciso estar sob forte pressão psicológica", justifica logo a seguir. "O ódio devia ser muito grande", acrescenta Américo Baptista.
"Se a questão não fosse sexual, a mutilação ocorreria noutra parte do corpo", considera o investigador da Lusófona. Mutilar os órgãos genitais significa que "quem o fez teria menos respeito" por aquela zona específica ou que "tinha sido abusado por essa parte do corpo", conclui.