Ex-Presidente de Israel Katsav condenado por violação

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Katsav foi chefe de Estado durante nove anos JACK GUEZ/AFP

Diário Ha"aretz comenta que é a primeira vez que um líder do mundo democrático recebe uma sentença do género

O antigo Presidente israelita Moshe Katsav foi ontem considerado culpado de dois crimes de violação e ainda de outros dois crimes sexuais por um tribunal de Telavive.

O caso apreciado pelo tribunal diz respeito a duas queixas de uma funcionária do seu gabinete quando era ministro do Turismo, nos anos 1990. Mais tarde, surgiram outras alegações de crimes sexuais de Katsav.

Os juízes consideraram credíveis as provas apresentadas pela funcionária, identificada como "A." (as identidades das vítimas foram protegidas durante todo o processo), que descreveu uma primeira violação por Katsav, que era então ministro do Turismo, no seu gabinete no ministério em Abril de 1998 e uma segunda, mais tarde, num hotel em Jerusalém.

Outras duas mulheres fizeram quei- xa de Katsav por assédio sexual já quando este era Presidente, em 2003 e 2005.

Foi aliás por causa de uma das quei-xas das funcionárias da residência presidencial que rebentou o escândalo que acabou por levar, em 2007, à demissão do Presidente, que sempre clamou inocência.

O tribunal considerou, num veredicto unânime, o antigo Presidente culpado de violar e atacar sexualmente uma antiga funcionária do Ministério do Turismo, assediar sexualmente uma funcionária da residência presidencial, abusar sexualmente e assediar outra funcionária da residência e de obstrução à justiça (por ter tentado discutir com uma das queixosas o seu testemunho). Foi declarado inocente apenas de uma das acusações, de que teria assediado uma testemunha.

Ainda segundo o tribunal, os factos alegados pelas vítimas foram corroborados por vários testemunhos (sobre o modo como Katsav começou por elogiar A. e depois humilhá-la quando esta não respondeu aos seus avan-?ços). Segundo o veredicto, o testemunho de Katsav "estava cheio de mentiras".

Comentando o veredicto, o diário israelita Ha"aretz sublinhava que "nunca antes um Presidente no mundo democrático foi considerado culpado de tais acções", considerando que o responsável "manchou a democracia israelita com vergonha".

"Perseguição étnica"

Katsav acabou por ser forçado a de- mitir-se pela pressão da opinião pública após sete anos no cargo. Foi formalmente acusado em 2009. O longo período até à leitura da sentença fez com que surgissem novos testemunhos, e todos corroboravam a versão da vítima, desacreditando Katsav, disse ainda o juiz-presidente, George Karra.

Katsav tinha rejeitado um acordo proposto pelo tribunal logo em 2007 em que, confessando uma acção inapropriada, poderia evitar uma acusação de violação. O ex-Presidente disse que queria lutar pelo reconhecimento da sua inocência em tribunal, apresentando o seu caso como o de uma "caça à bruxas" com motivos étnicos.

Nascido no Irão, Moshe Katsav era um caso de sucesso entre os normalmente menos favorecidos judeus que imigraram do Médio Oriente e Norte de África num país em que os judeus de origem europeia constituem, por tradição, a elite. Katsav teve uma ascensão rápida na política no partido Likud (direita) - foi o mais jovem presidente da câmara de Israel, com 24 anos, e em 2000 foi escolhido pelo Parlamento para ocupar a Presidência numa eleição contra Shimon Peres, o prémio Nobel da Paz que acabou por entretanto ocupar este cargo (em Israel, o Presidente é eleito pelo Parlamento).

O veredicto de ontem representa uma condenação de uma gravidade sem precedentes para um chefe de Estado de Israel. Ainda não é conhecida a pena, mas parece muito provável que Katsav, de 63 anos, casado e com cinco filhos, irá passar algum tempo preso. O crime de violação acarreta uma pena de quatro a 16 anos de prisão. O seu advogado diz, no entanto, que irá recorrer da decisão para o Supremo Tribunal.

O dia de ontem está a ser descrito como um dia negro para Israel já que expõe uma conduta criminosa do che- fe de Estado, que supostamente é a autoridade moral da nação.

Mas está também a ser saudado pelo modo como as acusações de cri- mes sexuais foram levadas a sério num país onde os activistas se queixam que estas queixas continuam a ser muitas vezes tratadas com alguma leveza, e elogiado também por mostrar a igualdade da justiça face a uma figura poderosa.

"Este é um dia triste para Israel e para os seus habitantes", afirmou o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, líder do Likud, o partido de Katsav. "Hoje [ontem] o tribunal passou duas mensagens claras: que todos são iguais perante a lei e que cada mulher tem direito exclusivo ao seu corpo."

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