Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão despedido
O ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, Manouchehr Mottaki, foi ontem demitido pelo Presidente Mahmoud Ahmadinejad, que imediatamente nomeou para o seu lugar, a título interino, o actual responsável pela Organização de Energia Atómica, Ali Akbar Salehi, um dos vice-presidentes do país.
A decisão de Ahmadinejad, que há vários anos mantinha um diferendo com o seu chefe diplomático, parece apontar para uma consolidação do poder em torno da figura do Presidente. Numa declaração publicada no site da Presidência, Ahmadinejad agradeceu "a diligência e o serviço" do ministro dos Negócios Estrangeiros, um diplomata de carreira no cargo desde 2005, mas não ofereceu qualquer justificação para a demissão - que foi ainda mais surpreendente por acontecer quando Mottaki se encontra fora do país, numa deslocação oficial ao Senegal.
Em declarações ao PÚBLICO, Meir Javedanfar, especialista do meepas, um centro de análise estratégica com sede em Telavive, enquadrou o despedimento de Mottaki na actual luta interna pelo poder na facção conservadora que governa o país, e na qual o ministro até era um actor relativamente secundário: a figura de proa na oposição a Ahmadinejad é, actualmente, o Presidente do Parlamento, Ali Larijani.Mas a tensão entre Ahmadinejad e Mottaki, segundo este analista, começava a pôr em causa a coesão do regime, uma situação que o Supremo Líder ayatollah Ali Khamenei pode ter considerado insustentável nas vésperas de importantes negociações internacionais. "Mais do que Ahmadinejad, foi o Supremo Líder Khamenei quem despediu Mottaki. Porquê? Porque o Governo precisa de unidade, e as discórdias entre Ahmadinejad e Mottaki seriam uma oportunidade para os países ocidentais explorarem as fragilidades do Governo", avalia.
A substituição de Mottaki por Salehi, um dos aliados mais próximos de Ahmadinejad, não prenuncia uma alteração significativa na linha da política externa do Irão ou do desenvolvimento do seu programa nuclear, uma vez que é o Supremo Líder que detém a responsabilidade pela escolha do ministro dos Negócios Estrangeiros e a condução do dossier nuclear. Mas, sublinha Meir Javedanfar, é um sinal claro de que, "para o Irão, a questão nuclear é a grande prioridade" da sua política.