Três casas de Raul Lino classificadas de interesse público no Monte Estoril

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Casa Monsalvat foi uma oferta da duquesa de Palmela ao pianista Alexandre Rey Colaço Fotos: FÁbio Teixeira

Um dos mais marcantes arquitectos portugueses do século XX vê reconhecida a importância do seu trabalho num dos núcleos históricos da vila que já viveram melhores dias

Três casas projectadas pelo arquitecto Raul Lino (1879-1974), no Monte Estoril, foram classificadas como "monumento de interesse público" pelo Ministério da Cultura. Na Câmara de Cascais a iniciativa é vista como o reconhecimento do valor patrimonial das casas Monsalvat e Vítor Schalk e da Vila Tânger, mas também como o reforço dos mecanismos legais para preservar uma parte daquele importante núcleo urbano do concelho.

Uma portaria do gabinete do secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle, publicada a 6 de Dezembro no Diário da República, classifica as casa Monsalvat e Vítor Schalk e a Vila Tânger como "monumento de interesse público" e fixa uma zona especial de protecção conjunta aos três imóveis. Assim, além das casas, passa também a estar protegida uma área envolvente mais ampla do Monte Estoril, delimitada entre parte das avenidas da Venezuela, do Faial e de Sanfré.

A portaria reconhece o valor de importantes peças "do património artístico e arquitectónico da primeira metade do século XX português". Diz que as casas são "um testemunho de interesse cultural relevante, que reflecte valores patrimoniais, de memória, autenticidade, originalidade e exemplaridade". A distinção serve ainda para "a valorização do contributo do arquitecto Raul Lino" na arquitectura portuguesa do século XX.

As três casas distam poucos metros entre si, na Rua do Calhariz, por trás do Hotel Miragem, unidade hoteleira à beira da Marginal.

A Casa Monsalvat, construída a partir de 1901, foi uma oferta da duquesa de Palmela ao pianista Alexandre Rey Colaço, para residência de veraneio. Este imóvel faz parte da exposição Falemos de [7] casas em Cascais, patente até 16 de Janeiro no Centro Cultural de Cascais. A arquitecta Ana Tostões, curadora da mostra, aplaude estas classificações porque "acabam por ser pedagógicas para o cidadão comum". "A Monsalvat é uma casa de referência", nota a arquitecta, acrescentando que se trata de "uma casa singular onde Raul Lino, de algum modo, faz uma primeira síntese das preocupações que o vão rodear ao longo da vida". A obra constitui "uma prova de uma arquitectura que tem a ver com o lugar" e que "não é formada de só um volume, mas orgânica, que vai juntando vários corpos". Raul Lino, nota Ana Tostões, praticou "uma arquitectura que está na vanguarda e na contemporaneidade de outros países", como a Inglaterra e a Alemanha.

Paulo Ferrero, do movimento Cidadania Cascais, mostra-se satisfeito, mas lamenta que outras propostas não avancem por desinteresse do Igespar e que o Monte Estoril continue a ver desaparecer uma grande parte das moradias de veraneio para dar lugar a modernos condomínios. Para a vereadora da Cultura da Câmara de Cascais, Ana Clara Justino, a classificação serve para "a salvaguarda das casas", mas também de uma área mais alargada. A autarquia, acrescenta, passa a dispor de mais instrumentos para sensibilizar as populações para "o interesse de preservar estas áreas".

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