"NATO está a tentar legitimar a sua existência mas ainda não conseguiu provar que é útil ao mundo e à segurança"

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Cartaz anti-NATO ontem numa rua de Lisboa ENRIC VIVES-RUBIO

A cimeira da NATO tem uma contracimeira alternativa. Decorre até amanhã no Liceu Camões e quer acabar com a Aliança Atlântica

Enquanto no Parque das Nações os líderes da NATO trabalhavam na tarde de ontem num novo conceito estratégico da Aliança, no Liceu Camões, em Lisboa, perto de cem activistas tentavam desconstruir a imagem da organização numa contracimeira. À porta desta contracimeira não houve polícia e apenas se percebia que ali se pedia o fim da NATO pelas folhas de papel A4 a indicar uma reunião anti-Aliança.

"Esta cimeira da NATO é uma cimeira da crise da própria NATO. Neste momento, a NATO está a tentar legitimar a sua existência mas ainda não conseguiu provar que é útil ao mundo e à segurança." A frase é de Jacques Fath, dirigente do Partido Comunista Francês, um dos participantes no encontro organizado pela Plataforma Anti-Guerra Anti-NATO (PAGAN), que decorre até amanhã naquele liceu. O francês acusa mesmo a NATO de em "países como o Afeganistão" ser o rastilho para "mais violência e terrorismo".

O número de activistas esperado, cerca de 300, não chegou a ser atingido ontem, primeiro dia da cimeira anti-NATO, mas no interior do Liceu Camões os discursos eram acesos e críticos. Além de Fath, estiveram presentes elementos de movimentos e organizações da República Checa, Afeganistão, Estados Unidos, Holanda, França e também de Portugal.

Shams Arya, um afegão que falou em nome de uma organização político-social do seu país, defendeu que não há diferença entre taliban e mujahedin, entre a ocupação russa ou a intervenção da NATO liderada pelos Estados Unidos. "Quando os russos ocuparam o país, fizeram-no por razões geográficas, políticas, económicas e estratégicas. Foi esse o propósito e é o mesmo agora. Não vejo nenhuma diferença", defendeu em declarações à agência Lusa. Referindo-se à situação do seu país, Arya sustentou que, "olhando para os bombardeamentos das forças da NATO no Afeganistão, os milhares de mortes provocadas, a destruição, as atrocidades cometidas por uns e por outros, não há diferença nenhuma e não é a favor do povo que estão a agir".

Natália Nogal, da PAGAN, contestou, por sua vez, as verbas utilizadas em operações da NATO e disse que o "dinheiro da guerra" é preciso "para acções de paz e desenvolvimento social". Quanto à presença de Portugal na Aliança, a plataforma lamenta que um país que "não tem inimigos nem conflitos de nenhuma espécie" esteja naquela organização. Além da contracimeira, a PAGAN pretende ir também para as ruas de Lisboa em protesto, mas demarca-se de qualquer manifestação violenta que possa vir a ser registada este sábado. "Não temos nada a ver com essas coisas", sublinhou Vítor Lima, um dos dinamizadores da plataforma. com Lusa

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