"A Espada e a Rosa": Vamos brincar aos piratas

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A Espada e a Rosa, estreia na longa-metragem de João Nicolau, chega à competição do Estoril Film Festival depois de uma passagem ignorada pela secção Orizzonti de Veneza e antes da estreia em sala, anunciada para 2011. É o filme português "de serviço" ao concurso, depois de "Lobos", de José Nascimento (2007), "4 Copas", de Manuel Mozos (2008), e "Duas Mulheres", de João Mário Grilo (2009).

Não é grande companhia, porque nenhum deles deixou boas memórias junto da crítica (ou do público). E é pena que caiba ao filme de Nicolau esse papel quase decorativo, porque A Espada e a Rosa, ao contrário dos seus predecessores, parece destinado a ser uma cause célèbre que divide opiniões, tal é o lado de "filme de geração" que transpira sem esforço.

Aparente "filme de amigos" a brincar ao cinema sem que essa brincadeira seja privada ou exclusiva, esta história de um rapaz que abandona Lisboa para se juntar a um navio pirata invoca géneros clássicos do cinema mainstream (o filme de aventuras, a ficção científica, o musical) com uma ambiência meio lírica, meio romântica, e a vontade de baralhar as regras tradicionais da narrativa. Filme de fim de Verão e fim de adolescência, sugere um Miguel Gomes menos aleatório e mais formalista, paradoxalmente mais espontâneo e menos toca-e-foge.

É um convite a brincar abertamente ao cinema (e aos piratas), e torna-se difícil resistir à bonomia que comunica, mesmo que por trás dela haja algo de melancólico sobre termos de deixar de perseguir os nossos sonhos. Mesmo reconhecendo que tem falhas, há em A Espada e a Rosa a sinceridade ardente e o amor pelo cinema que identificam um talento que vale a pena continuar a seguir.


"A Espada e a Rosa", de João Nicolau. Estoril, hoje às 17h00; amanhã, às 15h15
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