Serão precisos 25 anos para chegar a todos os quarteirões da área crítica da cidade do Porto

Foto
Um hotel vai ocupar as Cardosas PAULO PIMENTA

Estimativa foi apresentada pelo administrador da Sociedade de Reabilitação Urbana portuense, Rui Quelhas, numa conferência sobre regeneração urbana

Não vale a pena ter ilusões: vão ser precisos 25 anos para reabilitar todos os quarteirões inseridos na Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística (ACRRU) da cidade do Porto. A estimativa foi avançada, anteontem à noite, numa conferência sobre Regeneração Urbana, na qual o administrador da Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana (SRU), Rui Quelhas, foi o orador.

À SRU já não soa a novidade as críticas à lentidão do trabalho desenvolvido e, anteontem, na conferência inserida no ciclo Olhar o Porto, no Condomínio dos Lagos, Rui Quelhas foi confrontado, de novo, com essa realidade. O administrador foi taxativo: "Não é possível repor 70 anos de declínio em 10 ou 20 anos. É um trabalho que tem de ser lento", disse.

A título de exemplo, o responsável da SRU citou mais números: "Desde que pensamos intervir num quarteirão até que a obra se inicie são necessários 30 meses. E o período de obras ronda os 18 meses. Por isso, dificilmente uma intervenção durará menos de 48 meses".

O trabalho, ainda assim, vai-se fazendo, garantiu Rui Quelhas, que recebeu o apoio da também administradora da Porto Vivo, Ana Paula Delgado. Sem novidade, Quelhas elogiou o trabalho desenvolvido na Praça de Carlos Alberto, nos quarteirões do Corpo da Guarda, Trindade Coelho e Infante, destacando também a intervenção em curso no quarteirão das Cardosas e no Morro da Sé que, diz, "lá para 2013 vai ser uma realidade completamente diferente".

O espaço, em pleno centro histórico, e associado, em grande parte, ao tráfico de droga é, para Rui Quelhas, "um grande problema" e, por isso mesmo, "difícil de alavancar e de cativar investidores", pelo que deverá ser reabilitado, maioritariamente, com fundos públicos, oriundos do Quadro de Referência Estratégico Nacional e do Banco Europeu de Investimento.

A falta de uniformidade na metodologia seguida na reabilitação dos quarteirões foi um dos aspectos realçados por Quelhas, apontando o quarteirão do Infante como um local onde cada edifício foi recuperado, individualmente, pelo seu proprietário; o das Cardosas como um local onde um investidor (responsável pela construção do hotel InterContinental) domina o espaço; ou o quarteirão de D. João I, a cargo de um fundo imobiliário. É que, disse o administrador da Porto Vivo, ainda não é fácil convencer os investidores que a reabilitação é o negócio do momento, apesar dos números que apontam nesse sentido. Rui Quelhas disse mesmo que, graças aos incentivos fiscais, "os custos de raiz de reabilitação de um edifício no centro histórico são mais baratos cerca de 40 por cento do que construir um prédio novo fora dessa zona".

Ana Paula Delgado destacou o "efeito de alavanca" da SRU na cativação de programas de apoio à reabilitação na cidade, como o Recria. "Entre 2005 e 2009, foram reabilitados 639 edifícios no Porto, ao abrigo do Recria. Mais de 70 por cento dos quais se encontravam na área de influência da ACRRU", salientou.

Sugerir correcção