Bolsa de mecenato cultural para os pequenos produtores é ideia para salvar companhias

Pequenas companhias do Porto têm falta de salas para apresentar os trabalhos. O Maus Hábitos arranjou uma solução

A ideia é simples: criar uma bolsa de mecenato para a cultura, que possibilite aos pequenos produtores receberem os apoios que, geralmente, só chegam aos grandes. Ricardo Alves, director do teatro Palmilha Dentada, viu esta ideia no Brasil - e com bons resultados - e lançou-a agora no Porto.

A lógica é básica: "O BPI não tem capacidade nem interesse em falar com 50 companhias diferentes para depois dar 200 euros a cada uma." Porquê? Porque "quem quer apoiar a cultura não o faz só por uma questão social, fá-lo pelas contrapartidas", e "apoiar estruturas pequenas não dá visibilidade", responde. Os custos deste apoio para uma estrutura como um banco "não são relevantes", e por isso uma bolsa que servisse várias pequenas companhias seria uma solução prática, defendeu durante o debate "Financiamento da Cultura: Abordagens públicas e privadas", que decorreu no Maus Hábitos.

Foi também por uma questão de acesso a apoios que o Maus Hábitos resolveu juntar-se à Associação Cultural Saco Azul. "Como empresa que é, o Maus Hábitos não tem o direito de se candidatar a apoios e, por isso, em 2002, resolveu juntar-se à associação Saco Azul", explica o presidente desta empresa. Na verdade, só conseguiram o primeiro apoio em 2008. A Direcção-Geral das Artes aprovou agora o segundo apoio, o que justifica a "vinda à superfície" da Saco Azul agora. E o que possibilita uma programação já pensada até ao final do ano e a possibilidade de a divulgar (uma das grandes dificuldades das pequenas companhias). Debates culturais, espectáculos musicais (jazz, rock, blues e tango), performances e workshops são algumas das possibilidades. O projecto Residências, que já trouxe 48 artistas de 22 países durante dois meses, vai também arrancar no próximo mês, numa peça que vai ter estreia absoluta em Paris, em Janeiro.

A dificuldade que os novos artistas encaram para entrar no mercado é também alvo de preocupação do director do teatro Palmilha Dentada: "No Porto, é completamente impossível para os novos artistas entrarem no mercado", apontou. É com estes que Ricardo Alves se mostra mais preocupado, quando se fala dos cortes para a Cultura em 2011: "No Porto, o triângulo sagrado [Casa da Música, Serralves e Teatro Nacional de São João] seca tudo à volta. Não estou muito preocupado com eles, arranjam sempre forma de sobreviver. Estou mais preocupado com os novos artistas, com os jovens que saem das quatro escolas do Porto e que não podem fazer mais do que lançar-se no desemprego."

Para procurar atrair o público, a Palmilha Dentada está a pensar reduzir o preço dos bilhetes e aguarda apoios que lhe permitam apostar na divulgação. É que, muitas vezes, as pessoas "nem chegam a saber das peças que estão em cena", lamenta. E um último diagnóstico: "Faltam salas pequenas no Porto, não temos um espaço para apresentar peças." A Palmilha Dentada chegou a alugar o Sá da Bandeira durante seis meses para trabalhar: "Conseguimos não ter prejuízo, talvez o caminho seja por aí."

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