Jacques Rivette e o seu universo autoreflexivo nunca constituíram área de fácil acesso, de tal modo a rarefacção faz parte do programa de transformação dos modos criativos do cinema clássico americano que tão bem entendeu e criticou.
Em "36 Vistas do Monte-Loup", o cineasta cristaliza as suas reflexões sobre a comédia "screwball" com uma maestria rara e com o sentido absoluto de que a teatralidade do gesto se recompõe a cada instante. O absurdo domina a cena e a serenidade de fim de vida constrói as formas do olhar. Filme-testamento? Súmula de uma obra complexa e rigorosa? Talvez, mas sem o ar funéreo que tal reflexão costuma assumir; apenas os gestos, os silêncios, a beleza radical do momento repetido à exaustão e simultaneamente irrepetível. Como Cézanne a olhar fascinado para os múltiplos aspectos da Montanha Sainte-Victoire e a descobrir novos ângulos.