Controlar os excessos

Um tipo tresloucado aos saltos no palco e entre o público. Uma barba tresloucada que berra e se contorce enquanto os músicos continuam a tocar. Quem já viu Les Savy Fav ao vivo sabe do que falamos. A banda que nasceu a meio da década de 1990 para prenunciar grande parte do rock de guitarras angulares e muralhas noise que os anos 00 trariam, tem um novo álbum, "Root to ruin", e, por ele, é difícil estabelecer uma equivalência com os tão contagiantes quanto hilariantes excessos dos concertos. Porque os Les Savy Fav de "Root For Ruin" não são a monstruosidade insaciável que vemos em palco, e já não são a representação de neurose em duas guitarras, baixo, bateria e voz que foram no passado. Quer isto dizer que podemos esquecê-los e guardar os discos antigos para ouvir um dia destes? Não. Quer dizer que as suas armas agora são outras.

As canções são mais controladas, mais límpidas e concisas, e o jogo de guitarras de Seth Jabour e Andrew Reuland não se revolve agora como par de enguias em anfetaminas: desenha uma mancha sonora precisa, que mais que actuar na canção, ilustra-a. E depois, temos o sempre fiável Tim Harrington, um vocalista que não canta, debita manifestos em berros agudos - e é bonito ouvi-lo ameaçar "Holy Ghost, come get me now".

Os Bloc Party são grandes fãs dos Les Savy Fav, mas a banda americana está isenta de culpas. O que eles fizeram, e fazem-no novamente em, por exemplo, "Dirty knails" é atirar as guitarras "psychobilly" dos Cramps e o minimalismo dos Fall para uma misturadora e abanar com fervor para ver o que dali resulta. Enquanto são isso, ou quando dão a uma canção o título "Poltergeist" e agem de acordo - barreira sónica que se ergue sob o "storytelling" ameaçador de Tim Harrington -, ou quando traduzem em nuvem eléctrica e "stomp" feroz uma inquietação geracional, como em "Excess energies", não nos incomoda nada a existência mais controlada dos Les Savy Fav no século XXI.

É portanto lamentável que, algures a meio de "Root For Ruin", sejamos presenteados com melancolias choninhas que serviriam melhor os Interpol da actualidade ("Sleepless in silver lake") ou com uma "Let's get out of here" que é a canção para estádio berrar que não queríamos ouvir a esta banda. É lamentável, repetimos, pois assim se mina a boa vontade dos crentes e se crava a desconfiança no seu coração.

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