Nobel da Paz atribuído ao activista chinês Liu Xiaobo
A mulher de Liu, Liu Xia, declarou-se "absolutamente encantada" ao saber da atribuição do Prémio e pediu "com insistência" ao Governo chinês para libertar o seu marido.
O galardoado era um dos favoritos deste ano, tendo dedicado a sua vida a defender os direitos humanos dentro e fora do seu país. O também ex-professor de Literatura de 54 anos passou as duas últimas décadas a entrar e a sair de estabelecimentos prisionais chineses por defender e lutar por uma reforma democrática.
Hoje, o seu percurso valeu-lhe o primeiro Nobel da Paz para o seu país, com o comité a salientar que há muito que acredita que “existe uma relação próxima entre os direitos humanos e a paz”, reforçando que o próprio Alfred Nobel disse que são um pré-requisito para a “fraternidade entre nações”.
Contudo, o debate que antecedeu a escolha levou o próprio director do Instituto Nobel Norueguês a confirmar, na semana passada, que um responsável político chinês o advertiu para as consequências que uma decisão destas acarretaria em termos de diplomacia com a China. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi peremptório, em Setembro, ao declarar que Liu violara a lei e as suas acções eram “totalmente contrárias aos propósitos do Prémio Nobel da Paz”. E ameaçou que se o prémio avançasse que os negócios noruegueses na China ficariam em risco, com uma referência directa à gigante do petróleo e gás, a Statoil.
Apesar do alerta, o comité avançou e, em comunicado, destaca que Liu “tem sido um forte porta-voz na aplicação dos direitos humanos fundamentais também na China”, considerando-o mesmo um “símbolo” desta luta.
Outros dos oponentes à escolha foram, no entanto, mais inesperados, como vários outros activistas que lutam pelos mesmos objectivos. Numa carta que usa expressões tão fortes como “espezinhar os direitos humanos”, um grupo acusa mesmo o Liu de ter difamado outros dissidentes e de muitas vezes ser pouco severo com os líderes chineses, abandonando mesmo algumas causas.
Entre algumas nas iniciativas mais conhecidas do agora Nobel da Paz, destaca-se o manifesto que promoveu em Dezembro de 2008 e que ficou conhecido como “Carta 08” – em analogia com a “Carta 77” dos dissidentes da Checoslováquia comunista – e que foi publicada no 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem das Nações Unidas. Liu Xiaobo, após ter participado nos protestos da Praça Tiananmen, em 1989, foi já detido várias vezes. Na última detenção, um ano após a carta, foi condenado a onze anos de prisão.
Notícia actualizada às 11h10