APAV lança campanha sobre violência contra idosos
Em 2009, pelo menos dois idosos foram vítimas de crime todos os dias, a maior parte cometidos no seio familiar pelo cônjuge ou por um filho, segundo a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). São vários os materiais que suportam a campanha: dois spots de televisão e um de rádio, cartazes, banners nos sites e folhetos informativos dirigidos principalmente a profissionais, porque os idosos recorrem muito a unidades de saúde.
“Se estes profissionais estiverem informados é mais fácil encaminhar e diagnosticar se existe violência doméstica. É um projecto com uma forte vertente de formação pedagógica e sensibilização”, explicou Maria de Oliveira, responsável pela campanha. Haverá também acções de sensibilização nos estabelecimentos de ensino dirigidas às crianças e uma campanha para o público em geral.
“Vamos lançar um manual de atendimento e compreensão deste tipo de situações: indicadores de violência sexual, física, psicológica e financeira. A violência pode ser praticada na rua (roubo, por exemplo), pode ser em casa (violência doméstica) ou contra uma pessoa que mora sozinha”, disse Maria de Oliveira, adiantando que a APAV tem relatos de casos de prestadores de cuidados que ficam com os bens do idoso de quem cuidam. Será também lançado um manual que ajuda a compreender o fenómeno e a saber como se procede, dependendo de qual for a situação.
Maria de Oliveira adiantou que a maior parte dos crimes é praticada no âmbito da violência doméstica, mas que as pessoas idosas têm muita vergonha de assumir quando se trata da família, sobretudo filhos, pois sentem que é assumir que erraram como pais. “Também há muitos casos de dependência emocional. São situações complicadas para a pessoa admitir que está a ser vítima de crime e violência, sobretudo a psicológica (os insultos, as ofensas, a depreciação permanente), que é muitas vezes pior do que a física”, acrescentou.
As vítimas são maioritariamente idosos entre 65 e 75 anos, alvo de maus-tratos físicos e psíquicos, praticados pelo cônjuge (1622 processos em 2009) e pelo filho ou filha (1466 processos no mesmo ano). Entre 2000 e 2009 verificou-se um aumento de 120 por cento do número de casos de pessoas idosas vítimas de crime (mais 349 casos).
O que potencia a violência é normalmente o consumo de substâncias aditivas ou um historial de violência anterior, mas também há violência que parte das pessoas que tomam conta dos idosos e não têm capacidade para tal. Maria de Oliveira alertou ainda para outra forma de violência que é o internamento compulsivo num lar.