Mario Vargas Llosa é o Prémio Nobel da Literatura

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Mario Vargas Llosa Reuters

O escritor peruano Mario Vargas Llosa é o Prémio Nobel da Literatura de 2010, foi anunciado hoje em Estocolmo pela Academia Sueca. 

"Muito comovido e entusiasmado." Assim se sentiu Vargas Llosa ao saber que era seu o Nobel da Literatura deste ano. Foram as primeiras declarações do escritor, feitas à agência de notícias peruana Andina e citadas pela Lusa.

Vargas Llosa está em Manhattan, onde se encontra durante o período em que está a leccionar na Universidade de Princeton, soube o PÚBLICO na Feira do Livro de Frankfurt. "Todos os anos ele sonhava com isto e sempre lhe dissémos que era este o ano", comentava a directora de marketing da Alfaguara (do grupo Santillana), Angeles Aguilera, ao PÚBLICO.

O peruano, de 74 anos, foi distinguido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos", justifica a Academia em comunciado divulgado poucos minutos após o anúncio do Nobel.

As Publicações Dom Quixote, editora da maior parte da obra do escritor em Portugal, congratularam-se pela distinção em comunicado. "Depois de vários anos em que o seu nome foi sucessivamente apontado como vencedor do Nobel", lê-se, "a Academia Sueca decidiu, finalmente, premiar a obra de Vargas Llosa, conhecida e admirada em todo o mundo."

Francisco José Viegas, director editorial da Quetzal, que publicará em 2011 o mais recente romance do escritor, considerou a escolha "absolutamente inesperada", isto, "tendo em conta a tradição dos últimos anos, pelo menos, ou das últimas décadas, do Nobel". Em declarações à Lusa desde Frankfurt, onde acompanha a feira do livro da cidade alemã, Francisco José Viegas definiu Mario Vargas Llosa como um autor que "estuda o poder, estuda as formas de poder, as formas de exercício do poder e também estuda um pouco aquilo que é a memória revolucionária da América Latina".

A atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Mario Vargas Llosa é "um grande incentivo" a todos os que se preocupam com os países onde não há democracia ou a liberdade está ameaçada", disse o filho do escritor.

Entrevistado pelo canal de televisão argentino C5N, o escritor Alvaro Vargas Llosa afirmou que o seu pai pensava que era uma brincadeira quando soube que tinha sido distinguido pela Academia Sueca. Mario Vargas Llosa, de 74 anos, "ficou na dúvida até ao último momento, quando fizeram o anúncio oficial", disse o filho. Álvaro Vargas Llosa recordou que "há muitos anos", alguém se fez passar por um membro da academia e anunciou ao seu pai que tinha ganho o Nobel da Literatura.

"Nunca mais teremos que responder à maldita pergunta porque é que não deram o Nobel da Literatura a Vargas Llosa", comentou. De acordo com a agência de notícias France Press, Mario Vargas Llosa dará uma conferência de imprensa hoje à tarde no Instituto Cervantes de Nova Iorque.

No ano passado a distinção foi atribuída a Herta Müller. Em anos anteriores receberam também o Nobel da Literatura nomes como Jean-Marie Gustave Le Clézio (2008), Doris Lessing (2007), Orhan Pamuk (2006) ou Harold Pinter (2005). José Saramago, falecido em Junho deste ano, recebeu o Nobel em 1998, sendo o primeiro português a ser distinguido nesta categoria pela Academia Sueca.

Mario Vargas Llosa recebe o 103.º Prémio Nobel da Literatura, atribuído pela primeira vez em 1901. É o 11.º autor de língua espanhola a receber a distinção, depois de laureados como Camilo Jose Cela (1989), Gabriel Garcia Marquez (1982), Pablo Neruda (1971) ou Gabriela Mistral (1945). O autor de língua espanhola que mais recentemente venceu o Nobel literário foi o mexicano Octavio Paz, em 1990.

Este é o quarto Nobel atribuído este ano, depois do de Medicina (Robert G. Edwards), Física (Andre Geim e Konstantin Novoselov) e Química (Richard Heck, Ei-ichi Negishi e Akira Suzuki) . O prémio literário tem um valor monetário de cerca de um milhão de euros.

Detentor de dupla nacionalidade espanhola e peruana, Llosa nasceu em Arequipa, no sul do Peru, a 28 de Março de 1936. Depois de uma passagem pela Bolívia com a família e já no regresso ao seu país, Llosa estudou na Academia Militar Leôncio Prado de Lima, ingressando depois no curso de Letras em Lima. Seria através de uma bolsa para prosseguir os estudos que chega a Madrid, onde faz o doutoramento. Llosa acaba por trocar Madrid por Paris, onde além de professor de Espanhol é tradutor e jornalista da agência noticiosa France Press.

Em 1959 publica a sua primeira obra, um conjunto de novelas intitulado "Les caïds", mas seria quatro anos depois com a edição de "A cidade e os cães" que o seu nome ficaria conhecido no mundo literário.

Em 1966, a notoriedade de Llosa confirma-se com o lançamento de "A casa verde". Seguem-se outras obras como "Conversa na catedral", "Pantaleão e as visitadoras", "A tia Júlia e o escrevedor", "A guerra do fim do mundo", entre outros.

Além dos ensaios, romances, novelas e teatro traduzidos em todo o mundo, o escritor é ainda conhecido pelas posições políticas que assumiu, nomeadamente na revolução cubana, tendo mesmo deixado Espanha e vivido em Havana. Mas em 1971 Llosa vira costas à revolução castrista e aos movimentos de extrema-esquerda, justificando-o com a oposição à existência de um "líder máximo". Regressa de novo a Espanha, onde em 1993 consegue a dupla nacionalidade. O escritor, que havia sido distinguido em 1986 com o Prémio Príncipe das Astúrias, venceu no ano seguinte o Prémio Cervantes.

Lista de obras de Mario Vargas Llosa editadas em Portugal:

"A guerra do fim do mundo" (Bertrand, 1984)
"História de Mayta" (D. Quixote, 1987)
"A cidade e os cães" (Europa-América, 1977/ Dom Quixote, 2002)
"Quem matou Palomino Molero?" (Dom Quixote, 1988)
"Elogio da madrasta" (Dom Quixote, 1989)
"O falador" (Dom Quixote, 1989)
"A tia Júlia e o escrevedor" (Dom Quixote, 1988)
"Pantaleão e as visitadoras" (Europa-América, 1975/ Dom Quixote. 2001)
"Conversa na catedral" (Europa-América, 1972/ Dom Quixote, 1997)
"Como peixe na água: memórias" (Dom Quixote, 1994)
"Lituma nos Andes" (Dom Quixote, 1994)
"A guerra do fim do mundo" (Círculo de Leitores, 1995)
"Cadernos de Dom Rigoberto" (Dom Quixote, 1998)
"Cartas a um jovem romancista" (Dom Quixote, 2000/ Círculo de Leitores, 1999)
"A festa do chibo" (Dom Quixote, 2001/ Círculo de Leitores, 2001)
"A guerra do fim do mundo"
"A casa verde" (Dom Quixote, 2002)
"O paraíso na outra esquina" (Dom Quixote, 2003)
"A tia Júlia e o escrevedor" (Dom Quixote, 2003)
"Travessuras da menina má" (Dom Quixote/ Círculo de Leitores, 2006)
"Israel Palestina: paz ou Guerra Santa" (Quasi, 2007)
"Diário do Iraque" (Quasi, 2007)

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