Felipe Oliveira Baptista quer vender roupa em Portugal

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Peças de Luís Buchinho, Fátima Lopes e Felipe Oliveira Baptista na semana de moda de Paris

O recém-nomeado director artístico da Lacoste fez o melhor desfile dos portugueses presentes na semana de moda de Paris e anunciou que vai lançar uma nova linha de roupa mais acessível

Uma das paredes do atelier de Felipe Oliveira Baptista transformou-se num mural de imagens: há corpos de bailarinos em movimento e maquetas de edifícios modernos, os elementos que inspiraram o criador português. A sua colecção para o Verão de 2011 foi apresentada anteontem em Paris, na Cité de La Mode, uma hora depois do desfile do belga Dries Van Noten.

"Fui buscar elementos diferentes e contraditórios de coisas que gosto, como imagens das bailarinas de Dégas, da dança de Pina Bausch e de maquetas de edifícios de Frank Gehry e joguei com a dualidade de diferentes universos: ora clássico e moderno, ora rígido e soft", disse o criador ao P2 no final do desfile. O resultado foi uma colecção bem estruturada, com detalhes gráficos, cortes arquitectónicos, sobreposições, misturas de tecidos e padrões e repleta de vestidos.

Uma novidade foi a utilização de alguns tons suaves de azul, verde, amarelo ou lilás por entre os habituais preto e branco."O azul e o verde-água e as cores de camelo vêm quebrar a severidade do preto e do branco, que domina grande parte da colecção", explicou Oliveira Baptista.

Com uma audiência forte em empresários e imprensa, num dos melhores momentos da sua carreira (está a trabalhar como director artístico da Lacoste desde 1 de Setembro), o açoriano de 35 anos anunciou que vai lançar uma segunda linha de roupa mais pequena mas 30 por cento mais barata - vai chamar-se FOB - e que vai estar disponível no próximo Verão.

Oliveira Baptista não tem qualquer representação em Portugal. Porquê? - foi a pergunta que lhe fizeram alguns jornalistas no final do desfile. "Nunca ninguém quis comprar", respondeu. Mas garante que quer vender no país: "Tenho muita pena que as minhas roupas não se vendam em Portugal." Afinal, o seu produto já se encontra em lojas como o Harrods, em Londres, o Saks, em Nova Iorque, e o Bon Marché, em Paris.

Considera-se um criador português, ainda assim? "Sou português e a criação de moda é o meu trabalho", respondeu Felipe.

Na Lacoste, onde está a trabalhar como director artístico desde 1 de Setembro, sente-se tranquilo. A sua intenção é renovar o estilo feminino da marcapara seduzir as consumidoras das cerca de 1500 lojas da casa parisiense. Para além de pretender mexer na palete de cores, quer criar roupa que agrade a todas as faixas etárias. "Quero fazer algo diferente das fortes referências de sportswear que a marca tem", esclarece Oliveira Baptista. E diz que, apesar de as colecções masculinas representarem 75 por cento das vendas, quer apostar na ideia de energia, sensualidade e peças fáceis de vestir para mulheres. A sua primeira colecção para a marca do crocodilo será conhecida em Setembro do próximo ano, na semana de moda de Nova Iorque.

Inspiração africana

A biblioteca de um dos mais antigos liceus parisienses, o Lycée Henri IV, foi o cenário que Luís Buchinho escolheu para dar a conhecer uma colecção sensual e urbana, que teve inspiração nas paisagens do continente africano, como deixava perceber um conjunto de casaco e calças justas num padrão que lembra a pele de zebra.

Os vestidos destacaram-se quer pelo jogo entre linhas gráficas, quer pela profusão de drapeados, aplicações em pele ou pregas localizadas. O look ficou completo com alguns acessórios: cintos, pulseiras - que podem ser usadas nos braços ou tornozelos - e umas sandálias de salto alto em pele. Todos estão à venda na loja que o criador tem no Porto.

Luís Buchinho mostrou-se confiante com a ascensão do seu negócio, que diz ter triplicado no último ano - "passei de 12 pontos de venda para mais de 30, a maior parte no Norte do país." E acrescentou que espera que a marca continue a crescer a bom ritmo para que rapidamente consiga abranger o território nacional. Mas não só. Buchinho conta que os desfiles em Paris e a projecção internacional que eles permitem o ajudem a começar a exportar os seus produtos.

Fátima Lopes, que, tal como os outros dois criadores portugueses, participa na semana da moda de Paris graças ao apoio do Portugal Fashion e de fundos comunitários, anunciou a abertura de uma loja na cidade do Porto durante a próxima semana. "Estou muito satisfeita. Paris é, de facto, uma grande montra."

A semana de moda de Paris termina a 6 de Outubro com o desfile da Miu-Mil, a colecção mais jovem da Prada. São 91 as marcas que dão a conhecer as suas colecções para o Verão de 2011. O retorno de Pierre Cardin à passerelle, aos 88 anos, e o desfile da primeira colecção da Alexander McQueen, assinada por Sarah Burton - que substituiu o estilista morto em Fevereiro -, são as grandes novidades do calendário. De partida da Hermès está Jean-Paul Gaultier, que passa o testemunho a Christophe Lemaire, que, por sua vez, deixa a Lacoste nas talentosas mãos de Felipe Oliveira Baptista.

O P2 viajou a convite do Portugal Fashion

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