Documentário evoca o dia em que Humberto Delgado disse deixar o coração no Porto
O documentário foi realizado por Jorge Campos e produzido pelo Instituto Politécnico do Porto
A chegada do general Humberto Delgado à Estação de São Bento, no Porto, ficou registada apenas em fotografias. Não há imagens animadas desse dia histórico 14 de Maio de 1958. Mas a cor também não faz falta para se sentir a emoção transmitida pelas fotos a preto e branco. Uma multidão que os portuenses testemunhas do acontecimento, apontado por muitos como o princípio do fim do regime de Salazar, descrevem como nunca vista, e avaliada em cerca de 200 mil pessoas, quase não deixava avançar o automóvel descapotável que o "general sem medo" utilizou para subir os Clérigos e chegar ao famoso comício que proferiu na Praça de Carlos Alberto.
Estes documentos históricos podem ser reencontrados no documentário O Meu Coração Ficará no Porto que o Instituto Politécnico do Porto (IPP) produziu em 2008, a propósito das comemorações do cinquentenário da passagem de Humberto Delgado pela cidade, momento que marcou o arranque da sua campanha à Presidência da República. Segundo a presidente do IPP, Rosário Gamboa, entendeu-se por bem divulgar a obra agora, quando o país comemora o centenário da República.
O documentário será apresentado na próxima segunda-feira, pelas 21h30, no Teatro Nacional São João, no Porto, prevendo-se também a sua distribuição em DVD. O Meu Coração Ficará no Porto foi realizado por Jorge Campos e tem música do quarteto de clarinetes e da Orquestra de Sopros da ESMAE.
Misturando fotos e imagens de época com outras actuais, conta com a participação da filha e do neto de Delgado. É também um documentário generoso porque não se limita aos três dias que o general - assassinado pela PIDE em 13 de Fevereiro de 1963 - passou no Porto. Coelho dos Santos, que integrou a candidatura, conta, por exemplo, que quando foram esperar Humberto Delgado à Estação das Devesas, em Gaia, pensaram que a chegada ao Porto seria "um desastre", por falta de adesão popular. Afinal, teve uma das maiores surpresas da sua vida, graças também os tempos de antena que Delgado gravara no Rádio Clube Português.