Corrupção em Marbella chega a julgamento
Começou ontem o julgamento do denominado "caso Malaya", a operação judicial que descobriu o maior episódio de corrupção autárquica de Espanha e que levou à dissolução da Câmara de Marbella, reputada estância turística de Málaga, na Andaluzia. Está previsto que as sessões do julgamento, ontem iniciadas na Cidade da Justiça de Málaga, se prolonguem por mais de ano e meio.
No total, são 95 os processados, acusados dos delitos de lavagem de dinheiro, suborno, prevaricação e gestão danosa de fundos públicos. Entre os processados estão antigos presidentes do município marbelli - Julián Muñoz e Marisol Yague -, diversos vereadores de todos os partidos políticos, empresários, advogados e o presumível chefe da rede, Juan António Roca. Outros três processados estão em busca e captura, mas foram até agora infrutíferas todas as diligências judiciais efectuadas e os mandatos internacionais emitidos.
Segundo o Ministério Público, Juan António Roca exercia uma posição de "domínio" na Câmara de Marbella, à qual começou a estar vinculado em 1992 através de uma relação laboral com algumas sociedades municipais. Depois desta primeira fase, em Agosto de 2003 António Roca foi nomeado assessor pessoal da então alcaldesa Marisol Yague. A sua assessoria incidia sobre a área de urbanismo da edilidade. A Roca, antigo membro do Centro Nacional de Inteligência, a "secreta" espanhola, é atribuída uma fortuna de 241 milhões de euros, conseguida através do recebimento de luvas por operações urbanísticas ilegais.
Foi por mero acaso que os investigadores descobriram as teias de corrupção na cidade de Marbella. Investigavam um caso de lavagem de dinheiro e, nas escutas telefónicas efectuadas, foi detectada a rede de corrupção urbanística que propiciou a construção de 30 mil chalets ilegais. O "caso Malaya" foi também me- diaticamente relevante pelo envolvimento sentimental da cantora Isabel Pantoja com o antigo alcaide Juan Muñoz, que começou a trabalhar na autarquia com Jesus Gil y Gil, o antigo presidente do Atlético de Madrid, já falecido. Por isso, mais de 300 órgãos de comunicação estão acreditados para as sessões de julgamento. Ontem, a defesa de Roca requereu a suspensão do julgamento pondo em causa a legalidade das escutas, o que foi recusado pelo colectivo de juízes.
A dimensão do escândalo levou o Governo de Zapatero a dissolver, em Abril de 2006, a autarquia de Marbella, medida inédita na democracia espanhola. A actual alcaldesa, Ângeles Muñoz, do Partido Popular, solicitou que os quatro mil milhões de euros que a Justiça pede aos processados revertam a favor da cidade.