George Bernard Shaw, uma vida (também) em fotografias
O espólio do Nobel da Literatura de 1925 começa agora a estar disponível on-line e revela um fotógrafo tão minucioso quanto o era na escrita
"Não há outro sentido para a vida que não seja a tarefa de a mudar", escreveu George Bernard Shaw numa carta ao escritor Henry James, no início de 1909. Activista e socialista fervoroso, defensor dos direitos dos autores e humanista, Shaw (1856-1950) deixou uma vasta obra dividida entre romances, peças de teatro (a mais famosa delas Pigmalião, que no cinema se chamou My Fair Lady), crítica literária e discursos, na sua maioria uma observação detalhada da sociedade a partir da desmontagem das suas fachadas sociais.
O seu empenhamento social, não ausente de polémicas, distinguiu-o dos homens da sua geração, tendo-lhe sido atribuído em 1925 o Nobel da Literatura, e está presente no imenso espólio que começa agora a ser apresentado a público (www.nationaltrust.org.uk).
São quase 20 mil documentos, entre negativos em papel, vidro, nitrato, acetato e 35 milímetros, bem como álbuns de fotografias inteiramente construídos por Shaw e que estiveram guardados ao longo de décadas no National Trust, instituição no Reino Unido responsável pela preservação de lugares especiais, como é, por exemplo, a casa de Shaw, na Escócia.
No espólio, cuja digitalização e organização levará a uma exposição no fim do primeiro semestre do próximo ano, encontramos um homem que registava não apenas os interiores das casas (a arquitectura inglesa do início do século XX ocupa parte do arquivo) e dos teatros (há detalhes das produções das suas peças), mas, com a mesma atenção, pessoas (a actriz Vivien Leigh, os escritores Rilke, HG Wells e JM Barrie, e o compositor Elgar, entre outros), paisagens (África do Sul, Argélia, Nova Zelândia), manifestações, encontros públicos e actos políticos (como a criação da London School of Economics, da qual fez parte), fixando não apenas uma época mas a passagem do tempo através do comportamento das pessoas.
Os documentos, nos quais dois terços pertencem ao próprio Shaw e outros foram acrescentados posteriormente (entre eles fotografias tiradas por T.E. Lawrence, o da Arábia, seu amigo próximo), revelam ainda uma atenção particular ao desenvolvimento tecnológico. Muitos deles indicam, por exemplo, as condições técnicas em que foram produzidos. A colecção, que viu alguns dos seus documentos serem publicados em revistas da especialidade, guarda as suas experiências com a cor, bem como a experimentação com diferentes papéis. Tiago Bartolomeu Costa