Inciarte e três dos seus companheiros, todos membros da equipa de râguebi do Uruguai que seguiam para o Chile quando o seu voo se despenhou nas montanhas, a mais de 4 mil metros de altura, foram convocados pelas autoridades chilenas para conversar com os mineiros e aconselhar os seus familiares.

“Sentimos necessidade de reciprocar a atenção que recebemos em 1972, quando todos os chilenos nos trataram tão bem”, explicou à BBC Mundo José Luís Inciarte, o director da Fundação Viven, que tem como missão “ir ao resgate das comunidades de pessoas cuja vida é uma sobrevivência diária”.

A situação em que se encontram os 33 mineiros chilenos impressionou sobremaneira os sobreviventes uruguaios, que para manterem-se vivos durante 72 dias em condições desumanas chegaram a recorrer ao canibalismo. “Como nós nesses momentos dramáticos, eles devem estar desesperados por reencontrar as suas famílias”, acredita Inciarte.

Carlos Paéz, um dos sobreviventes dos Andes, nota que as situações são similares só no que diz respeito ao tédio e ansiedade que se sentem à espera do salvamento. De resto, notou, “eles estão debaixo da terra com 30 e tal graus de temperatura; nós estávamos nas alturas com 30 graus negativos. Nós pensávamos que ninguém nos ia procurar e eles estão em contacto com a civilização”, comparou.

Os mineiros são ansiosamente aguardados no “Campo Esperanza”, uma cidade de tendas improvisada no deserto e onde se concentram as suas famílias. Ontem, viveram-se momentos de sobressalto, quando o trabalho da perfuradora que está a escavar o túnel de escape da mina foi suspenso temporariamente por risco de aluimento.

Outro episódio acalorado aconteceu quando se percebeu que à espera de Johny Barrios no acampamento estavam a mulher e a namorada. “Ela não tem legitimidade para estar aqui”, denunciou Zulema, casada há 15 anos. “Estamos apaixonados”, contrapôs Susana, garantindo que ela e Johny já estão juntos há cinco anos.