Fidel lamenta homofobia do regime cubano
O antigo Presidente de Cuba, Fidel Castro, pediu desculpa pelo comportamento homofóbico do regime comunista, que há meio século enviou centenas de homossexuais para campos de trabalho forçado sob a acusação de serem contra-revolucionários. "Foram momentos de grande injustiça, e se alguém é responsável, sou eu", confessou Fidel, numa entrevista ao jornal mexicano La Jornada.
Pela primeira vez, Fidel admitiu que, tal como as mulheres e os negros, os homossexuais foram marginalizados e perseguidos pelas autoridades, depois da revolução de 1959. Durante as décadas de 60 e 70, centenas de pessoas foram despedidas, forçadas ao exílio e enviadas para campos de reeducação - as chamadas Unidades Militares de Ajuda à Produção - por causa da sua orientação sexual.
"Nesses tempos, não me podia ocupar desse assunto. Tínhamos tantos problemas de vida ou de morte que não prestámos atenção", justificou o antigo guerrilheiro, acrescentando que depois da revolução estava mais preocupado com "a guerra com os ianques" e os "planos de atentado contra a minha pessoa" do que com a repressão dos homossexuais.
Passados mais de 50 anos, Fidel disse que "queria delimitar a sua responsabilidade" na discriminação sofrida pelos gays, "até porque pessoalmente não tenho esse tipo de preconceito", esclareceu. No entanto, e como revelou uma pesquisa nos arquivos dos discursos do "Comandante", Castro usou várias vezes palavras depreciativas para referir-se aos homossexuais. "A nossa sociedade não pode dar cabimento a essas degenerações", declarou em 1963.
Outra vez, Fidel especulou sobre as origens da homossexualidade: "Eu, que não sou cientista, sempre observei uma coisa: o campo não gera esse subproduto. Estou convencido de que esse problema tem tudo a ver com um ambiente de indolência".
A homossexualidade foi descriminalizada em Cuba em 1979, mas, segundo denunciou ontem a confederação espanhola LGBT Colegas, a homofobia ainda está latente naquele país. "A polícia ainda reprime duramente os homossexuais nos seus lugares de encontro, como parques, praias, cinemas ou festas, e continua a encarcerá-los. E também persegue as organizações e activistas independentes, como a Fundação Reinaldo Arenas, que não é controlada pelo Cenesex", acusou o porta-voz da Colegas, Paco Ramírez, referindo-se ao Centro Nacional de Educação Sexual, dirigido pela filha do Presidente Raul Castro.
De acordo com números coligidos por aquela fundação, mais de 5000 jovens gays cubanos foram detidos ou multados pela polícia e cerca de 600 homossexuais seropositivos foram condenados à prisão por "perigo social".