"Em Paris" e "As Canções de Amor" fizeram de Christophe Honoré uma das novas coqueluches do cinema francês. Como este "Não, Minha Filha, Tu Não Vais Dançar" de título longo e loboantunesiano, eram filmes que trabalhavam o tema da "família em convulsão" mas que o faziam sob uma muito explícita memória da "nouvelle vague", trabalhada como referente em primeiro lugar afectivo (sobretudo em "As Canções de Amor"), mas no melhor caso ("Em Paris") um pouco mais do que apenas isso. Sem abandonar a questão familiar, "Não, Minha Filha..." despe-se desse tipo de referências para encontrar outro rio tradicional do cinema francês: o realismo naturalista, ou o naturalismo realista, que íamos qualificar com o adjectivo "famigerado" se depois não fosse preciso explicar longamente porque é que o fazíamos.
Assim, muito abreviadamente, diríamos que dessa tradição há uma tendência dura e cheia de ossos (modelo Pialat) e outra mole e fácil de mastigar (modelo, sei lá, Claude Miller, ou o pior Truffaut, o Truffaut pasmado que enfureceu Godard). Não é certo para qual das tendências aponta Honoré, mas parece-nos - pior das opções - que procurou uma no cravo e outra na ferradura. Uma relativa dureza sentimental, uma não desinteressante aspereza no desenho das personagens, psicologia e relacionamentos, até mesmo na presença dos actores (sobretudo de Chiara Mastroianni, na sua personagem "refractária" ao statu quo familiar, mesmo que Chiara fique a milhas da atitude desafiante, antipática, "anti-empática", da melhor Sandrine Bonnaire). Mas, depois, o risco permanente da amorfia completa, um cinema subjugado ao argumento e aos diálogos (é o filme de Honoré que é mais "argumento filmado", e incluímos na conta o indigesto "Ma Mère"), uma espécie de abandono auto-complacente, ou pior ainda auto-compungido (climax disto: perto do final, a entrada a martelo de Antony & the Johnsons na banda sonora), aos rodriguinhos narrativos e ao "roteiro psicológico" da personagem central na sua viagem de progressivo abandono familiar, sempre sublinhada e, na relação com o espectador, sempre manipulada com recurso aos cordelinhos mais gastos e estereotipados. A força esvaiu-se, e o impacto emocional fica, certamente, com quem se deixar conquistar para ele - mas, e isto também é certo, já não há aqui nem sombra de um "momento Kim Wilde"...
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