Incêndios já emitiram o mesmo CO2 que 29 milhões de carros de Lisboa ao Porto

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Este ano já foi libertado pelo fogo um milhão de toneladas de CO2 Foto: Paulo Pimenta

Desde 1 de Janeiro a 15 de Agosto, o país perdeu para os incêndios mais de 70 mil hectares de floresta e mato. No cenário climático, isso significa que foi emitido para a atmosfera um milhão de toneladas de CO2 equivalente. O mesmo que 29 milhões de automóveis a viajarem de Lisboa ao Porto, estima a Quercus.

Este não é um número dramático, tendo em conta que em 2008 - o ano com os dados oficiais mais recentes - Portugal emitiu, no total, 75 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Visto neste contexto, "não é muito". "Mas é carbono que escusava de ter sido libertado", comentou Francisco Ferreira, vice-presidente da direcção nacional da Quercus, ao PÚBLICO.

A associação chegou a este valor de um milhão de toneladas de CO2 equivalente através dos valores médios de biomassa e de emissões estudados por José Cardoso Pereira, do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Este investigador estima que cada hectare emite 16 toneladas de CO2 equivalente.

Ainda assim, os incêndios florestais deste ano mancharam a prestação do país no âmbito do cumprimento do Protocolo de Quioto. Não porque emitimos gases poluentes a mais, mas, principalmente, porque deixámos de ter a mesma capacidade de os retirar da atmosfera, precisamente através das florestas. Estas funcionam como sumidouros de carbono reconhecidos pela Convenção -Quadro da ONU para as Alterações Climáticas como forma de ajudar a travar o aquecimento global.

Cumprimento de Quioto

De acordo com os dados da Off7, empresa nacional da área da redução de emissões de carbono, em 2008 a floresta portuguesa conseguiu absorver um total de 4.414 mil toneladas de CO2. "Este ano [com os incêndios] terá perdido 3 por cento da sua capacidade de sequestro de carbono, ou seja, cerca de cem mil toneladas", disse Catarina Veiga, responsável pela quantificação de emissões na Off7, ao PÚBLICO. Estas cem mil toneladas que a floresta já não consegue retirar da atmosfera correspondem às emissões de 50 mil veículos ligeiros.

A má notícia é que "a reposição desta capacidade de sequestro de carbono das florestas pode demorar décadas, uma vez que, mesmo que a reflorestação seja imediata, as árvores precisam de largos anos até atingirem a sua capacidade plena de absorção de CO2", considerou a empresa em comunicado divulgado esta quinta-feira.

"A mudança de uso do solo associada aos incêndios - nomeadamente a passagem de floresta de produção ou natural a mato - constitui uma diminuição dos sumidouros em Portugal, tornando mais oneroso o cumprimento do Protocolo de Quioto" no período de 2008 a 2012, alerta a Quercus.

Romeu Gaspar, da Off7, referiu que Portugal deverá chegar ao fim do período de cumprimento de Quioto, a 2012, a emitir 10 milhões de toneladas de CO2 a mais.

O que os fogos destruíram

Em Agosto arderam 8162 hectares no Parque Nacional da Peneda-Gerês, correspondendo a 11,7 por cento da área total daquela área protegida, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).

Os maiores fogos aconteceram na Mata do Cabril, onde em 15 dias arderam 3529 hectares, no Soajo (2465 hectares), em Vilar da Veiga (1479 hectares) e em Fafião (689 hectares).

Segundo os dados do ICNB, arderam 724 hectares em Zonas de Protecção Total (a maior parte na Mata do Cabril), correspondendo a 26 por cento da área de protecção total do Parque Nacional.

No Parque Natural da Serra da Estrela, de 1 a 20 de Agosto, arderam 4878 hectares, correspondendo a 5,53 por cento da área total do parque. Os maiores incêndios ocorreram na Aldeia da Serra (4610 hectares), Nabais (216 hectares), Aldeia Viçosa (36 hectares) e Vale de Azares (dez hectares). "A área de maior intervenção humana tem a esmagadora percentagem da área ardida, com mais de 85 por cento", diz o instituto.

Entre os valores naturais afectados, destacam-se os 720 hectares na Reserva Biogenética.

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