O que seria de Campo Maior sem o senhor Rui?Emprego

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A estátua em bronze de Rui Nabeiro domina a praça, em plena Avenida da Liberdade de Campo Maior

A importância do "patrão do café" vai muito além da criação de emprego na vila raiana. Rui Nabeiro, dono da Delta Cafés, é o mecenas que o povo não quer perder. Por Marisa Soares(texto) e António Carrapato(foto)

a Sentado à sombra de um chaparro, Manuel da Cal espreita a estátua no meio da praça, em plena Avenida da Liberdade. A figura em bronze retrata, em tamanho real, o comendador Rui Nabeiro, o "filho da terra" que dá as boas-vindas a quem chega a Campo Maior. "Foi a homenagem que o povo lhe fez por ter ajudado tanta gente com o negócio do café", conta Manuel. Mas o reconhecimento dos campo-maiorenses ao maior mecenas do concelho não fica por ali, anda na boca de todos. "Os de fora dizem: "Vocês estão bem porque têm o Nabeiro." Quando ele faltar é que não sei como vai ser."

Em 79 anos (tantos quantos tem o comendador), Manuel nunca trabalhou na Delta, mas tem na família "cinco ou seis" pessoas que pediram emprego ao "senhor Rui". Pelo menos três sobrinhos e um neto. E quem conhece o comendador sabe que ele "dá a mão sempre que pode".

Em Campo Maior, a Delta Cafés é a principal empregadora. Só na fábrica de torrefacção do café, na Herdade das Argamassas, trabalham cerca de 1500 pessoas (em alguns casos, famílias inteiras), mais de um terço da população activa do concelho. Isto sem contar com os empregos indirectos gerados pelo negócio do café, nem com as duas dezenas de empresas do Grupo Nabeiro, que actuam em sectores como o comércio, os serviços, a hotelaria e a distribuição.

É dele o único hotel do concelho, o Santa Beatriz; o restaurante Aperta Azeite; a clínica Clube da Saúde, com mais de 20 especialidades médicas; o Centro Educativo Alice Nabeiro, com jardim-de-infância e ocupação de tempos livres; o único Museu do Café do país; a Adega Mayor (projectada pelo arquitecto Siza Vieira); e outras lojas de electrodomésticos e de automóveis.

À custa disso, o concelho, com perto de 9000 habitantes, tem uma das taxas de desemprego mais baixas do Alentejo, longe da média nacional. Em Julho, havia 406 desempregados inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional, ou seja, quatro por cento da população.

Para o presidente da Câmara de Campo Maior, Ricardo Pinheiro, há outro número que importa reter: desde o início do ano até à semana passada, a empresa contratou 100 pessoas, o que tem contribuído para fixar a população. Se não fosse o café, a vila podia ser mais uma das "terras-fantasma" do interior? Manuel diz que sim. Ricardo Pinheiro acrescenta: "A Delta pôs Campo Maior no mapa."

Sem compromisso

Às 11h da manhã, as carrinhas de distribuição da Delta já andam por todo o lado. Nas prateleiras de O Ministro, o estabelecimento de José Gaita, não faltam sacos de café do lote Ouro, o preferido dos clientes. "Usamos Delta desde que abrimos a casa, há 20 anos", conta a esposa, Adriana. Os pacotes do açúcar e do adoçante e as chávenas também têm o logótipo da Delta Cafés. "Não temos nenhum compromisso com a marca, cada um gasta o que quer. Então mas se o homem tem um bom café..."

Os toldos à porta dos cafés da vila confirmam a versão de José Gaita. Nem todos têm o símbolo da Delta. Uns poucos apresentam o logótipo do café Silveira, outra marca da terra. A fábrica de Manuel Nabeiro Silveira é mais antiga que a do primo Rui - foi fundada em 1957, quatro anos antes da Delta -, mas nem por isso tem mais peso nos cafés de Campo Maior. Maria Manuela Pires, de 55 anos, faz uma pausa na limpeza das casas de banho públicas e arrisca uma explicação. "Tem menos pessoas da terra a trabalhar."

Uma coisa é certa. O apelido Nabeiro abre portas. Foi o comendador - primeiro autarca eleito no concelho, em 1976, e presidente da comissão concelhia do Partido Socialista - que convidou Ricardo Pinheiro a candidatar-se às autárquicas de Outubro de 2009. Antes disso, o jovem trabalhava como engenheiro electrotécnico na Delta. Resultado: venceu as eleições e tornou-se o presidente da câmara mais jovem do país, aos 28 anos.

Mecenas do Alentejo

"A Delta é importante para Campo Maior, para Portalegre e para todo o Alentejo", diz Ricardo Pinheiro. Porquê? Basta ver os apoios que Rui Nabeiro tem dado à região, em áreas como a educação, o desporto e a saúde. Ao hospital de Elvas, por exemplo, o comendador doou um equipamento de tomografia axial computadorizada (TAC) e aparelhos de detecção precoce de problemas auditivos em bebés. "Até o Hospital Infanta Cristina, em Espanha, ele ajudou", diz Maria Manuela.

A mulher - que também tem uma sobrinha a trabalhar na Delta - acredita que "um dia destes, se quiser, o senhor Rui faz um hospital em condições em Campo Maior". Manuel não duvida, até porque se o comendador quer, a obra nasce. As Festas do Povo, por exemplo, que antes se realizavam a cada quatro anos mas já não se fazem há seis, devem regressar em 2011, ano em que comemoram o centenário. Claro que a Delta sempre foi o grande patrocinador da festa, mas nos últimos tempos o comendador "chateou-se" (a relação com o anterior presidente da câmara, João Burrica, não era das melhores), diz Maria Manuela, e as flores de papel não saíram à rua. Mas para o ano a festa volta à vila.

O peso de Rui Nabeiro chega ao desporto. O Sporting Clube Campomaiorense, patrocinado pela Delta e dirigido pelo filho, João Nabeiro, deixou o futebol profissional em 2002, depois de ter chegado à primeira divisão. Na altura, Nabeiro disse que o dinheiro não chegava para tudo. Manuel tem outra versão: "O pai viu que andavam a roubar o filho e cortou as verbas." Em alternativa, o clube apostou na formação e alargou o leque de desportos praticados. "Os nossos miúdos têm melhores condições do que os que andam nos grandes clubes do país", garante Ricardo. Tudo graças ao "senhor Rui".

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