Lisboa juntou-se a mais 110 cidades do mundo para apelar ao fim da lapidação no Irão

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O protesto também apelou a uma intervenção do Governo português RAQUEL ESPERANÇA

Manifestantes autónomos reuniram-se no Largo do Camões para exigirem a libertação de Sakineh e a abolição da pena de morte

Lisboa juntou-se, ontem à tarde, às 110 cidades de todo o mundo para protestar contra o apedrejamento até à morte de Sakineh Ashtiani, acusada pelas autoridades iranianas de adultério e cumplicidade na morte do marido. Mas a figura de Sakineh foi apenas mais um pretexto para uma causa geral: lutar contra a pena de morte, seja ela de que forma for.

O Largo do Camões foi o local marcado para a manifestação autónoma contra a lapidação da iraniana. Maria João Pires, uma das responsáveis pela manifestação, explicou que a organização do protesto ocorreu de forma muito espontânea. "Eu e um amigo vimos o link do evento internacional [Comité Internacional contra as Execuções] e perguntámo-nos: "E se nós fizéssemos cá?" Disseminámos a ideia no Facebook e, ao fim de pouco tempo, já tínhamos cerca de 15 pessoas", contou. O certo é que a ideia espalhou-se rápido, ou não fosse as cerca de 200 pessoas que por volta das 18h estiveram no encontro. "A cidadania é algo que deve ser exercida sempre. Fiquei espantada com tanta receptividade, pois há cerca de um ano, aquando se realizaram as eleições presidenciais no Irão, houve uma pequena vigília de estudantes iranianos e estavam bastante menos pessoas", revelou.

Contudo, a contestação não serviu somente para tentar persuadir as autoridades iranianas que recuem na lapidação de Sakineh Ashtiani, e que lhe dêem liberdade imediata e incondicional. O último objectivo é a abolição da pena de morte e levar a julgamento todos os executantes da lapidação, assim como banir dos corpos internacionais todos os Estados que pratiquem este género de execuções. "Sim, precisamos talvez de uma ocasião assim, de uma causa, de um nome e um rosto para nos sentirmos juntos e capazes, para sentir que não somos indiferentes. Precisamos de Sakineh como ela de nós", declamou um dos intervenientes da acção. Para além destas exigências, o Comité Internacional contra as Execuções pretende que o presidente do Irão, Mahmood Ahmadinejad, "seja impedido de entrar na Assembleia Geral das Nações Unidas" em Setembro. Por cá, Maria João Pires lamenta que o Governo português não se prenuncie sobre o assunto. "Também outro dos objectivos da nossa manifestação é fazer com que o Governo expresse uma acção conjunta com outros países da União Europeia e que exerçam formas de pressão para travar este acto horrendo", disse.

Recorde-se que Sakineh Ashtiani teve a sua primeira condenação em 2006 por "relação ilícita com dois homens", no qual coube-lhe um castigo de 99 chicotadas. Mas um tribunal conservador reviu a sentença e puniu-a à morte por lapidação. Desde então, formaram-se vários grupos de apelo à libertação da iraniana, incluindo de líderes governamentais. Ainda assim, Teerão diz que a aplicação da pena foi suspensa e que o veredicto está "em fase de análise".

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