Danilo Pereira, um miúdo tímido em Itália
Danilo Pereira está habituado a viver sozinho. Mesmo antes de ter passado dois anos a viver no Caixa Futebol Campus, o centro de estágio do Benfica no Seixal. “A minha mãe sempre trabalhou muito e eu não a via muitas vezes, já estou um bocado habituado.” Agora, o jovem internacional português sub-19 vai continuar a viver sozinho, primeiro num quarto de hotel, depois num apartamento, em Itália, onde vai jogar durante as próximas cinco temporadas com a camsiola do Parma, clube da Série A. Ele, que nunca chegou a actuar no principal campeonato português.
Primeiro a história recente. Danilo, um médio aguerrido, foi escolhido pela UEFA para integrar a lista dos dez melhores futebolistas do Europeu de sub-19 e captou a atenção de vários clubes italianos, que identificavam nele características semelhantes às do grande médio francês Patrick Vieira. Estava no seu último ano de júnior no Benfica, ainda sem contrato profissional e, segundo os seus representantes, não iria integrar o plantel “encarnado”. O Fátima, clube que recebeu vários jovens futebolistas da formação benfiquista, seria o destino previsto para esta temporada. Houve uma abordagem para renovação de contrato, mas, diz Oliver Cabrera, o seu agente, a oferta do Benfica era “ridícula” e foi, por isso, rejeitada. E Danilo queria evoluir.
"Gostaria de jogar no Benfica, mas é complicado. O Benfica tem outras aspirações, precisa de ganhar para manter os adeptos satisfeitos e tem receio de apostar nos jovens”, diz Danilo ao PÚBLICO, por telefone, a partir de Itália, poucos dias depois de ser apresentado como jogador do Parma, onde terá como colega, por exemplo, o veterano avançado argentino Hernán Crespo.
Segundo os seus representantes, havia muitos clubes interessados, quase todos do “calcio” - Lazio, Génova, Inter, Palermo, Nápoles e os franceses do PSG -, mas Danilo escolheu o Parma porque, refere o seu agente português Bruno Meireles, iria ter oportunidades na primeira equipa e não iria ser emprestado. “O Parma fez-me uma boa proposta, acreditou em mim e achei que podia evoluir, que é o mais importante para mim”, refere o jovem de 18 anos.
Da Guiné para Mem Martins
Danilo Luís Hélio Pereira nasceu na Guiné Bissau a 9 de Setembro de 1991 e veio para Portugal com seis anos. A sua mãe tinha imigrado quatro anos antes para estudar enfermagem e, depois de concluir o curso e arranjar emprego, fez com que o filho viesse ter com ela. Aos oito anos, Danilo, um aluno “não muito aplicado mas com boas notas”, começa a jogar futebol no Arsenal 72, um clube de Mem Martins, freguesia do concelho de Sintra, dando os primeiros passos de uma ambição que foi sempre única: “eu só pensava em jogar futebol”. Depois, foi para o Estoril e, já com um empresário a representá-lo, deu o salto para o Benfica quando era ainda juvenil de segundo ano. “Tem um potencial físico e técnico enorme”, observa ao PÚBLICO Rui Águas, que esteve ligado ao futebol de formação do Benfica até à última temporada.
Com os “encarnados”, Danilo, um médio polivalente de grande estatura (1,86m de altura), começou a dar nas vistas e, depois de obtida a nacionalidade portuguesa, entrou nas selecções nacionais, o que conduziu a maior visibilidade internacional e, mais tarde, à transferência para o futebol italiano concretizada esta semana.
Já no Estádio Ennio Tardini, foi apresentado na quinta-feira como um jogador “de futuro": “É preciso dar-lhe tempo para se adaptar à nossa realidade. É um atleta com grande margem de progressão mas é importante que não seja pressionado”, alertou Pietro Leonardi, administrador delegado do Parma. “Era um objectivo prioritário para nós”, acrescentou.
"Não sou muito de falar"
Se o próprio Danilo considera que, apesar do necessário período de adaptação, vai evoluir rapidamente como jogador, Rui Águas, que o conhece da formação do Benfica, considera que é sempre um grande risco emigrar tão novo. “Ele não ficou no Benfica porque as coisas não se resolveram no tempo certo. Sou muito crítico em relação a este tipo de mudanças. Nem sempre resultam”, diz o antigo avançado que até passou pelo futebol italiano, mas já em fim de carreira - a Reggiana foi, em 1995, o seu último clube.
Danilo, por enquanto, ainda só está a apalpar terreno e, pelo seu tom de voz, até nem soa demasiado entusiasmado. Mas isso, diz Bruno Meireles, é porque é um jovem tímido. “Para ele está sempre tudo bem. Dizia que “sim” ou ficava calado quando eu lhe dizia quem é que estava interessado nele, mesmo que por dentro estivesse em ebulição”, observa o agente.
Danilo reconhece que é introvertido, mas garante que, no campo, não é nada assim. “Não sou muito de falar, gosto de ficar no meu cantinho, não gosto de incomodar ninguém, só falo quando me perguntam alguma coisa, ou quando quero perguntar alguma. Como jogador é diferente, com os meus colegas comporto-me de maneira diferente, mas até os conhecer...”