Cabra-montês da Mata do Cabril, no Gerês, poderá ter fugido do fogo para Espanha
"Parte do espaço vital das cabras da Mata do Cabril já foi afectado, alerta dirigente do FAPAS
O fogo que lavra há mais de uma semana na Mata do Cabril poderá ter afugentado para Espanha o núcleo da cabra-montês, espécie Criticamente em Perigo que aí vivia isolada há cerca de dez anos. Mas o núcleo mais importante destes animais no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) está a salvo.
Miguel Dantas da Gama, do Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens (FAPAS), tentou avistar anteontem as 40 cabras-monteses (Capra pyrenaica lusitanica) da Mata do Cabril, mais de metade da qual foi já atingida pelas chamas que deflagraram a 11 de Agosto. "Não consegui ver nenhuma, ainda que isso não queira dizer nada. Mas é natural que, com a confusão de meios aéreos e no terreno, elas se tenham afastado e atravessado a fronteira", contou ao PÚBLICO.
Na altura do incêndio, que ontem foi considerado dominado, os animais encontravam-se na margem direita da Mata que faz fronteira com Espanha, a uma quota mais elevada, para escapar às elevadas temperaturas e à procura de pastos. Agora, "a tendência será subirem para a linha de fronteira", explicou. A alternativa seria fugir para o lado de Portugal, mas, para isso, teriam de passar pelos solos queimados. "Parte do espaço vital das cabras da Mata já foi afectado."
Apesar da intensidade do incêndio, que Dantas da Gama acredita já ter passado por 80 por cento da Mata do Cabril, não existirá "risco imediato de [as cabras] morrerem queimadas". O núcleo desta Mata é um dos três existentes no PNPG. Numa área que abarca a Galiza, haverá 400 cabras-monteses, estima Miguel Pimenta, daquela área protegida. Depois de ter sido dada como extinta em Portugal no séc. XIX, a cabra-montês foi reintroduzida em 1997 na serra do Xurês, Galiza, medida que ditou o regresso do animal às serras do Gerês.
A área afectada este ano pelo fogo na Mata do Cabril é muito importante para esta subespécie, "devido ao seu isolamento e qualidade de habitats", explica Miguel Pimenta. Foi nas suas escarpas que surgiu o primeiro núcleo de cabra-montês, depois da reintrodução. Hoje, o núcleo mais importante destas cabras é o da serra do Gerês.