Lar de acolhimento de jovens encerrado em Estremoz por alegados "excessos e abusos"
De acordo com Paulo Cardoso, director-geral da instituição, "a suspensão da actividade teve por base decisões da Segurança Social". Em declarações à agência Lusa, o responsável pela instituição falou sobre "indícios de excessos e de alguns abusos por parte de ex-funcionários do lar". Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Cardoso não quis precisar que tipo de "abusos e excessos" existiram, já que "há processos em tribunal". E considerou que esta situação terá contribuído para a suspensão do acordo com segurança social, que permitia a actividade do lar. "Reconhecemos que no passado existiram procedimentos e métodos de actuação menos adequados", confessou. Para além desta situação, Paulo Cardoso acrescenta que a instituição irá suspender a actividade "tendo por base a necessidade de reestruturar e requalificar a resposta". Esta será a forma encontrada para, "num futuro próximo, voltar a oferecer uma resposta de excelência na área de apoio social", concluiu.
O lar de Estremoz, que acolhia jovens do sexo masculino (a partir dos três anos de idade), sobrevivia graças ao apoio de beneméritos e donativos das igrejas evangélicas, mas também devido ao acordo de cooperação com a Segurança Social (SS). A suspensão deste acordo determinou o encerramento temporário da instituição.
Para Paulo Cardoso, era "evidente a necessidade de repensar e definir novas metodologias para a problemática da institucionalização das crianças e jovens em risco" e, portanto, o Lar Betânia "comunga da decisão da tomada (pela SS) no sentido de suspender para melhorar", esclareceu em declarações ao PÚBLICO. As dificuldades vividas pela instituição ("carências de estruturas" e edifícios "obsoletos") foram também reconhecidas pelo director. "Não possuíamos a qualidade que consideramos adequada", concluiu.
O lar, "tutelado pela Segurança Social e pelas igrejas associadas da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal", fica assim com a actividade suspensa, sendo obrigado a recolocar os 30 jovens que tinha a seu cargo. De acordo com Paulo Cardoso, "já foram retirados do lar 13 dos jovens, e está agendada a saída de mais dois". Na sequência do encerramento, 15 funcionários ficarão no desemprego.
O PÚBLICO tentou, sem sucesso, um contacto com a Segurança Social em Estremoz. As explicações foram remetidas para a sede do instituto (Lisboa), onde, por motivo de férias, não foi possível obter respostas. Também a Câmara de Estremoz, parceira institucional do lar, não soube dar qualquer esclarecimento. PSP e GNR declararam não ter registo de queixas, ou não poder dar informações.
Nascido em 1965, o Lar Betânia recebia apenas jovens do sexo masculino. Contudo, em 1985, foi alargada a sua esfera de acção, com a abertura de uma filial em Vendas Novas, destinada a raparigas. Paulo Cardoso garantiu que pretende "apresentar à Segurança Social um projecto de reestruturação que já está a ser trabalhado", uma vez que é essencial "reabilitar o equipamento social, para ter uma resposta adequada".