Torne-se perito

Violador de Telheiras interrogava vítimas sobre a família e as suas vidas sexuais

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Graffiti em Telheiras, onde o violador consumou a maioria dos crimes enric vives rubio

Ministério Público imputa ao arguido, com 30 anos, a prática de 74 crimes, entre os quais 14 de coacção sexual, 13 de rapto e sete de violação. Em nenhum dos casos houve penetração

Agia de forma solitária, era organizado e muito cuidadoso e escolhia as vítimas que, pela sua pouca idade, imaturidade e constituição física, lhe ofereciam garantias de pouca resistência e de mais facilmente se atemorizarem. A acusação agora deduzida pelo Ministério Público contra o homem, actualmente com 30 anos, que, ao longo de mais de dois anos, atacou dezenas de adolescentes e jovens mulheres em prédios de Telheiras, Alfragide e Linda-a-Velha, na área da Grande Lisboa, destaca também o facto de a maioria das abordagens acontecer em elevadores.

Os prédios eram previamente estudados pelo suspeito, que elegia aqueles que tivessem portas corta-fogo nos últimos pisos ou onde houvesse espaços reservados, como casas de máquinas, estendais ou aposentos do condomínio.

No total, são treze os casos concretos que lhe são imputados, sendo que, em duas situações, as vítimas foram abordadas na rua e noutras duas no interior das suas viaturas. Em duas das situações, as jovens estavam acompanhadas dos respectivos namorados. O suspeito usava sempre uma navalha, faca de cozinha ou chave de fendas, que encostava ao pescoço das vítimas para as coagir.

Em regra, forçava-as a fazerem-lhe sexo oral, optando por actos de masturbação quando os seu intentos não eram bem-sucedidos. Em nenhuma das situações relatadas na acusação houve violação vaginal ou anal. Apenas num caso isso foi tentado, mas sem sucesso. A vítima, então com 17 anos, chorava insistentemente, não parava de se mexer e dizer que lhe doía, o que o terá levado a mudar de planos.

Castigo pela mentira

Outra atitude comum era a espécie de inquérito a que o suspeito submetia as vítimas. Questionava-as sobre se tinham namorados e as suas vidas sexuais, mas também sobre as suas actividades escolares ou profissionais, a família e as ocupações dos pais. Numa das vezes, tendo descoberto que a vítima lhe tinha mentido, decidiu castigá-la, obrigando-a a repetir o acto de masturbação. É que, após o interrogatório e antes de abandonar o local, o suspeito exigia-lhes as respectivas carteiras, sacos ou mochilas, que revistava minuciosamente, incluindo todos os documentos.

Também os telemóveis eram detalhadamente vistoriados e lidas as mensagens. Outra das atitudes comuns era a de lhes retirar a bateria, que depois abandonava por perto em lugar que indicava, isto para que não pudessem telefonar enquanto se afastava.

Mas não era só com os telemóveis que o suspeito demonstrava ser extremamente cuidado e organizado. Procurava também eliminar toda e qualquer pista, como vestígios biológicos. Um cuidado patente na forma como procurava limpar as superfícies onde tivesse sido derramado sémen, para o que solicitava às vítimas as meias que usavam. Quando houvesse vestígios biológicos nas roupas, recolhia-as e substituía-as por outras que levava no seu saco. Também num dos casos, em que a vítima foi forçada a entrar no elevador, teve o cuidado de lhe ordenar que fosse ela a premir o botão, isto para evitar deixar vestígios digitais.

Nos dois casos em que o ataque visou casais, o suspeito procurou sempre em primeiro lugar forçar as jovens (uma com 15 e outra com 22 anos) a fazerem sexo oral com os namorados. Ambas resistiram, tendo sido depois forçadas a masturbar o suspeito.

Além dos actos lascivos e de violência sexual, o agora acusado apropriava-se também, em regra, do dinheiro das vítimas. Começava por as mandar esvaziar os bolsos e as carteiras ou sacos, exigindo-lhes que lhe entregassem o dinheiro. Sempre quantias irrisórias, entre os cinco e 20 euros. Apenas num dos casos, em que a vitima foi abordada na sua viatura, lhe exigiu depois que fizesse levantamentos no multibanco. Como ela tinha três cartões, exigiu três levantamentos de 200 euros. Perante a argumentação da jovem de que apenas tinha dinheiro numa das contas, obrigou-a a ir a três caixas, a fazer a operação e a entregar-lhe os talões indicando os respectivos saldos.

No total, a acusação imputa-lhe 74 crimes. Catorze são de coacção sexual, 13 de rapto, sete de violação e quatro de sequestro. Ou outros são de roubo e de abuso sexual.

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