Muras,os índios condenados à extinção pelos portugueses
Enfraquecidos pelas lutas contra os colonizadores portugueses há dois séculos, a tribo indígena Mura quase foi dizimada. A História chegou a admitir que teriam desaparecido. Neste século, são já mais de nove mil e lutam pela demarcação da sua terra, sob ameaças de morte. Estão a mudar o mapa da Amazónia e a resgatar a memória com uma escola indígena.
1. Calor-inferno para Novo Céu, terra Mura
As pernas do miúdo dentro da água com lixo não parecem estranhar o lodo. Sentem-se cheiros azedos de esgoto. Há comércio clandestino e fruta exótica em cestas, bafejada com fumo de escape, calor e poeira vermelha. No porto de Careiro da Várzea, no rio Amazonas, a uma hora de barco de Manaus, a maior metrópole da Amazónia brasileira, há ainda gente cabisbaixa e apressada. O último autocarro para Autazes e Novo Céu parte dali a dois minutos, às quatro da tarde. Muitos ainda enfrentariam, depois, o barco até às outras margens das vilas de Jacaré e Murutinga, terras dos índios Muras.
O dia, até ser noite, tem mais 150 quilómetros até à Comunidade de Novo Céu. Água potável só engarrafada e uma garrafa de litro e meio é insuficiente para enfrentar a rudeza da Rodovia Transamazônica até ao destino. São três horas num autocarro de ferro-velho, impreparado para o calor-assassino da Amazónia, que pode sintetizar o bunker-convulsivo que ela é. Terra rude, tensa, ilegal, onde se mata por muito pouco, e onde a justiça não tem mão, quando existe. Aqui o tempo e o espaço desconcertam-nos, promíscuos. Se o primeiro já é lento, o segundo, colossal, intensifica-lhe o vagar. Tudo é sempre demasiado longe: estradas precárias, curvas de rios sinuosos e voos de horas vendo um manto verde homogéneo, intercalado por porções desmatadas.
Ocupando um banco de corredor no autocarro, a morena com a criança ao colo não deve ter mais de 16 anos. Tem os sacos de plástico de supermercado atulhados por baixo do banco, a atrapalharem o conforto das pernas. Tem manchas de suor na camisola.
Mal o precário autocarro arranca, a transpiração espalha-se para cada um dos corpos dos viajantes como um vírus. O arranque é violento e o motor soluça a cada mudança engrenada.
Os mais de 30 graus, lá fora, de terra em transe, entram em efeito estufa para a "lata" velha colectiva. Quem quiser "ar condicionado" abrirá as janelas. Mas a corrente de ar, insuficiente para arejar 30 fôlegos simultâneos dos passageiros, é abafada, mesmo a 80 km/h. O pó dos bancos insalubres mistura-se com o odor acre das peles e, dali a pouco, há gente a sufocar com quebra de tensão. O motorista tem de parar o autocarro para uma pausa. Pedem-lhe, depois, para que acelere mais um pouco entre lombas e fissuras do piso. Acata o conselho. Seria esse o remédio para esquecer o calor: estávamos agora concentrados em chegar vivos ao destino. Quando ele desvia para a estrada secundária, há crateras. Já noite, porque aqui anoitece cedo, enfrenta-se a estrada de terra seca e gravilha. O autocarro inclina-se para a berma, galgando um pedaço de mato. Os galhos arranham o braço de uma miúda que manteve a janela aberta. A mãe ralha-lhe, mas resignada ao carrossel violento em que a viagem se tornou. É habitual. Uma hora depois, sob o calvário de solavancos e o insuportável cheiro a terra queimada, povoada por abutres, Novo Céu parece ser o paraíso por que se ansiava.
2. Ameaças de morte
e terra roubada
No dia seguinte, a primeira advertência. "O António Mota é um tuxaua de trato difícil. É preciso ter muito cuidado com a forma como se fala com ele." Viria a segunda, como extensão de uma regra. "Ouça-o, com muita atenção." O aviso é do padre italiano Massimo Ramundo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de Manaus, recém-chegado a Novo Céu mas há 17 no Brasil, para ajudar também os Muras da região, a tribo indígena que os livros de História relatam terem sido condenados à extinção pelos colonizadores portugueses.
Depois viria a espera de uma hora, sem água para beber, sob 40 graus, num campo de plantação de mandioca a ser devastado por vermes. A mulher do tuxaua de "trato difícil", o líder eleito de uma comunidade indígena, tenta dizimá-los de enxada na mão, em "mutirão" com mais uma dezena de "parentes". A seu tempo, António Mota sai do meio do mato. Acelerado, de corpo macilento e queimado pelo sol, T-shirt, calças de ganga e boné desportivo. É ele quem toma o rumo da conversa, ao ver cor de pele estrangeira. Esbraceja, esbugalha os olhos, irascível. Essa seria mais uma regra sempre que tomasse a palavra. Dispara: "Finalmente a nossa causa vai ser internacional. Vai contar a nossa história em Portugal? Há muitos anos que lutamos pela demarcação da nossa terra e os fazendeiros estão a destruí-la, queimando-a. Veja a tristeza à nossa volta: terra em cinzas, terreno infértil. Daqui a pouco tempo não sobrará nada e os nossos filhos não terão meios de sobrevivência."
Há preocupação e temor justificados na acusação do tuxaua. O povo Mura, como muitos povos indígenas no Brasil, vivem do que plantam e do que a terra dá. A mandioca é a base da alimentação. Com campos devastados por mão alheia aos Muras, donos daquelas terras, está a morrer também parte da dieta de sobrevivência deles: a castanha, as frutas como o açaí e a bacaba, que nascem numa espécie de palmeira, usadas também para fazer o caiçuma, tipo de bebida alcoólica, cuja técnica herdaram dos antepassados. A acusação de "terra roubada" prossegue na voz de Roberto Santos, outra liderança tuxaua da aldeia de Caranaí, a metros daquele campo de mandioca. "Estamos cercados. Eles estão a pressionar-nos cada vez mais. Veja que ao redor da nossa aldeia só há fazendas." Ou seja, reforça, contundente, António Mota, "muitos brancos" estão a apropriar-se, "ilegamente, das terras do povo Mura", sob a alegação de que foram eles que as "acharam" para morar.
Por antiguidade, os Muras, que habitam a região há centenas de anos, enquanto indígenas, são os donos da terra. A Fundação Nacional do Índio (FUNAI) já a delimitou, englobando 37 aldeias ao redor. Falta a demarcação oficial, divulgada em lei. Ainda assim, "o avanço ilegítimo dos brancos" é notório. A região tem extensas cercas, grandes casas senhoriais e gado a pastar. Não era suposto. O conflito agrário entre os Muras e os fazendeiros tem tom intimidativo e coerção física. "Quando os confrontamos para tentar mostrar que estão errados - e eles sabem que estão - roubando o que é nosso, a nossa cultura e a nossa forma de vida, somos ameaçados de morte", denuncia o tuxaua. O cenário poderia, hoje, ser pior, continua. "Antes eu estava noutra área. Se eu não tivesse vindo para este lado, na aldeia de Tauari, os fazendeiros já teriam tomado toda a nossa terra. E isso é crime previsto em lei. Temos de resistir." E resistir por aqui significa enfrentar "pressão psicológica" diária. Há carros que invadem as aldeias acelerados, ameaças de atropelamento na estrada de gravilha, exibição de pistolas.
Apesar de os Mura terem a lei do lado deles, o Governo Federal não consegue ter mão na área. E a Polícia Federal nem sempre atende os apelos, pois o contingente resume-se a meia dúzia de homens.
A tensão e o conflito são extensões óbvias da voz revoltada de António Mota. "Quando esses fazendeiros passam pelas nossas aldeias de carro, atiram pedras para nos amedrontar." E essa forma de "aviso" já foi, não raras vezes, mais longe, conforme conta o tuxaua da aldeia de Atauarí. "O ano passado ameaçaram matar-me; que eu poderia esperar que isso acontecesse, porque andava causando muitos problemas. Vários parentes estiveram comigo, a defender-me, e passámos as noites acordados, para que não me apanhassem de surpresa."
Nessa altura, a Polícia Federal e a FUNAI tiveram de intervir para apaziguar os ânimos e defender o tuxaua. Mas os centros de decisões e justiça ficam demasiado longe de Novo Céu.
Valder Pacheco, conselheiro fiscal e uma das lideranças das aldeias Mura, já levou um enxerto de porrada de "um fazendeiro". Prefere não revelar o nome dele para se salvaguardar de represálias. "Uma vez fui procurar saber por que razão ele quase atropelou a minha mulher na estrada. Quando lá cheguei, bateram-me." Chegou a apresentar queixa na polícia. Não deu em nada.
As ameaças e a "tortura" psicológica não amordaçaram os Mura, muito menos o discurso obstinado do tuxaua de Tauarí. "Sou uma jiquitaia daquelas bravas [formiga vermelha da Amazónia que causa forte ardência na pele] para denunciar os crimes que estão cometendo contra meu povo."
3. Demarcação da terra, subornos e poluição
Para se chegar à aldeia de Murutinga, do outro lado do rio Autazes, filho do Madeira, um dos grandes da Amazónia, e onde originalmente se fixaram os antepassados dos Muras, é preciso apanhar uma canoa com uma "rabeta" (motor pequeno) e enchê-la com um litro de gasolina. São 30 minutos de ronco fraco.
A prima do António Mota aproveita a boleia, levando a filha, pois nem sempre há transporte para aquele lado da margem.
O sol forte queima a pele exposta. Há casas flutuantes no rio, típicas de época de várzea por ali, com peixe abundante para a dieta alimentar das famílias. Um homem toma banho nessas águas fluviais e uma família viaja de canoa, remando no sentido oposto. Motor de barco, aqui, é luxo.
Vêem-se garças e jacarés nas margens; e duas crianças sozinhas num barco a tirar peixe do rio sem muito esforço.
Se desligarmos a rabeta, há placidez de natureza: pios de pássaros e rio a embalar canoas de casco frágil, artesanais. Com a atenção do ouvido apurado, percebe-se que o sossego é cortado pelo barulho de fundo do motor de uma termoeléctrica, das várias da região, que servem para levar electricidade a algumas comunidades. Uma novidade de há três anos (não o suficiente para acabar com as velas das casas dos Muras), mas também uma "solução" que faz da Amazónia uma das regiões mais poluentes. O gasóleo necessário para as abastecer vem de Manaus, transportado em cargueiros que sobem o Amazonas, depois de 20 dias no Atlântico desde o Sul do Brasil.
Para o padre Massimo Ramundo do CIMI, que apoia os indígenas com questões legais e formação, a luta do povo Mura pela terra endureceu com a liderança de António Mota. Massimo relembra que, durante muitos anos, o povo Mura esteve disperso. Resgata a História. "Os Mura foram dos povos que mais sofreram com a colonização portuguesa, condenados à extinção pela sua resistência à escravatura." A História chegou mesmo a considerar que se extinguiram. Um equívoco: resistiram na selva, dispersos. Agora, reforça Massimo, o tuxaua conseguiu unir todas as lideranças da região e reforçar a identidade Mura. "Muitos tinham e têm, ainda, vergonha de ser índios. Tenho primos que querem ser brancos e negam as suas origens. Temos a responsabilidade de honrar a memória dos antepassados. Por isso, temos de reivindicar os nossos direitos." O tuxaua de Itauari conseguiu identificar ainda "os parentes" (nome por que se denominam todos os índios entre si) que "estavam a ser subornados por esses fazendeiros".
Os Muras são um povo que se move na região do Baixo Amazonas conforme a época de cheia ou várzea, alternando entre a caça de tatu, paca e veado, e a pesca. Durante essa deslocação muitos fazendeiros aproveitam para se "apropriar das terras indígenas", que alegam estarem "abandonadas", para "queimarem terrenos e criar gado". "Há muitos parentes que apoiam brancos, em troca de dinheiro", confirma Maria Lúcia, conselheira local de saúde e vice-tuxaua da aldeia de Murutinga, junto com o líder Raimundo Monteiro. "Eles já tentaram subornar-nos. Nunca aceitamos. É um insulto. O mais importante é a demarcação das nossas terras, que estão a desaparecer." O tuxaua de Murutinga empola o alerta: "Todos os anos eles avançam mais e não sai nenhuma resolução legal."
A antropóloga Márcia Pereira, da FUNAI, coordenadora do projecto Mura, já conversou várias vezes com os fazendeiros, intermediando o diálogo e reforçando a legalidade das terras indígenas. Algumas vezes não a receberam, outras os "conselhos" caíram no vazio. Enquanto o ofício da FUNAI (e sem data) não sai, a área Mura continua a ser invadida.
4. Escola e saúde
indígenas
O homem de óculos de sol deitado na rede dos "parentes" de António Mota está inamovível. É "branco" e sofreu um AVC o mês passado. Não fala. Só se move com ajuda e os óculos servem para esconder um derrame no olho. "Encontramo-lo no chão da casa dele, onde morava sozinho", relata Mota. Conseguiram, depois, algum dinheiro para levá-lo para Manaus, mas voltou em estado vegetativo. Não há médicos num raio de 150 quilómetros, com todas as dificuldades de transporte que isso implica, aqui, longe de tudo.
O caso "exemplifica" a falta de acesso à saúde na região. Ainda que a aldeia de Murutinga tenha um posto de saúde, apetrechado com uma minifarmácia (com remédios para os principais males da Amazónia, como diarreias e gripes), uma enfermeira e duas técnicas, a assistência é muito precária. "Para problemas maiores, temos a Casa do Índio em Manaus, mas eu peço ao agente de saúde daqui para não mandar ninguém para aquele lugar: está cheio de moscas, é sujo, horrível. Aquilo não é para gente", denuncia António Mota. Continua, irado: "A falta de acesso à saúde é uma das minhas grandes tristezas. Qual é o futuro das nossas crianças? Eu sei que a FUNASA [Fundação Nacional de Saúde Indígena] tem recursos para melhorar as condições, mas esse dinheiro só pode estar a ser desviado. A assistência tem piorado cada vez mais."
As grávidas têm de ir para Manaus para dar à luz e muitos ribeirinhos agonizam sem cuidados mínimos de saúde. Por não conhecerem outras condições de atendimento, muitos índios Muras conformam-se. Mas isso está a mudar. Sobretudo desde que o ensino indígena se consolidou nas aldeias e desde que a faculdade chegou para muitos professores. "Só cientes dos nossos direitos podemos enfrentar o branco que, em muitas ocasiões, nos tratou como se fôssemos nada", desabafa Amélia Cabral, professora Mura a frequentar o primeiro ano da Licenciatura Indígena, reivindicada pela comunidade. Sentiram "necessidade de uma formação especializada para ensinar às crianças a importância do espírito crítico".
A parceria nasceu, então, com a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), uma das mais conceituadas do estado. E como funciona o ensino indígena? "Adoptamos o sistema nacional - Matemática, Língua Portuguesa, Geografia e História - mas trabalhamos com a nossa realidade: valorizando a memória dos nossos antepassados para perceber a versão da História que os brancos contam." Ou seja: "Como podem as crianças saber que foi Pedro Álvares Cabral quem veio primeiro para o Brasil, sem saber quem foi o primeiro tuxaua?", questiona Amélia, reforçando que a metodologia de ensino indígena privilegia o "diálogo na sala de aula". Objectivo: formar "crianças que pensam e não que engolem verdades absolutas". Para isso, completa Mário Mar Sousa, presidente da Organização dos Professores Mura, e a trabalhar há 17 anos com a "melhoria da educação" do seu "povo", há um cuidado "permanente" em cruzar o conhecimento indígena com o do "branco". Sobretudo porque a televisão e a Internet, com a electrificação das aldeias, entraram em "grande força" nas aldeias indígenas. Logo, se há tecnologia disponível, importa usá-la para o bem da comunidade e "perceber por que o que acontece no mundo afecta as aldeias Mura". Como por exemplo, ilustra Sousa, "se o desmatamento evolui, pode levar à morte de um rio", privando-os do peixe, um dos principais alimentos.
5. Resgate da cultura,
novo mapa da Amazónia
Trinta professores indígenas reúnem-se ao redor do mapa da Amazónia na sala de aula da Secretaria Municipal de Educação de Autazes. "Esta aldeia não é aqui, é mais para cima", aponta um deles, traçando a lápis a coordenada errada. "E, olha aqui: este igarapé não tem este nome. Não tem nada a ver!", observa outro.
A propósito da Licenciatura Indígena Mura, Maria Angélica Caviccioli, professora de cartografia da UFAM, percebeu que há dezenas de equívocos no mapa da Amazónia, cartografado pelos militares brasileiros em 1980. Compete-lhe, agora, passar com rigor ao Departamento de Cartografia e Geografia do Exército algumas dessas imprecisões identificadas pelos Mura. "Eles têm um conhecimento espacial rigoroso da região onde moram, num nível de detalhe que mais ninguém tem. Sabem orientar-se no meio da selva, identificam todas as árvores, rios, afluentes e caminhos, sem GPS."
Os desenhos das aldeias traçados pelos professores, têm um nível de pormenor "incrível": ilustrações das casas de cada um; tipos de peixes, canoas e as plantações de fruta. Pensemos no que isto significa: o povo Mura está a mudar o mapa da Amazónia. Haverá outros "equívocos", presume-se, nas coordenadas do mapa amazónico. Sendo a região tão extensa, com milhares de hectares inacessíveis e inexplorados, é difícil "mapeá-la".
"Temos muito a aprender com eles", admite a professora da UFAM, referindo-se à cultura Mura. Há troca de conhecimento, portanto. "Percebi que eles precisavam apenas de noções de cartografia, pois, em poucos minutos, conseguiram identificar a área deles numa imagem satélite."
Empenhados em resgatar a memória e o valor da sua cultura, os Muras editaram um livro com informações e mapas de cada uma das aldeias. E tiveram, há dois anos, apoio do Ministério da Cultura brasileiro para produzir documentários sobre as lendas, as músicas, as festas, a Língua Mura - o Nhengatu - que só os mais velhos, poucos, falam, já que o português é, hoje, a língua materna.
António Mota gosta de uma canção em especial, "a da Cotia", que todos os anos serve para dançar no Dia Nacional do Índio, a 19 de Abril, como celebração da cultura Mura. Mas é a única festa cultural que realmente celebram, além da de Santo António, a 13 de Junho, numa mistura de sagrado e profano, com fitas coloridas ao redor da imagem, que viaja na mão de barco pelas várias aldeias. O livro descreve ainda um dos maiores "tesouros" das comunidades indígenas. Isto é, os "saberes tradicionais da floresta": remédios caseiros para a diarreia, malária e cancro como a casca de paracanaúba, usada pelos Pajé, sobretudo, os curandeiros indígenas, cuja importância está, hoje, a desaparecer.
No entanto, se a cultura Mura esteve "esquecida" por muito tempo, conforme atenta Mário Sousa, o resgate da memória pela educação está a consolidar a identidade. Em poucos anos, passaram de dezenas de famílias para milhares. O livro é, por isso, uma espécie de prova contra as falácias do passado e homenagem aos antepassados "guerreiros". "Houve até historiadores e um governador que disseram que nós já não existíamos, que tínhamos sido dizimados pelos colonizadores. Já mudámos essa percepção", diz orgulhoso Mário, que é também Professor de História e Geografia.
O documento-livro, Povo Mura, de mais de 250 páginas faz já parte do acervo da UFAM, como registo de memória viva, detalhada, que a História não pode, agora, apagar. a ??publica@publico.pt