Desde há muito que o universo do iraniano Abbas Kiarostami se rarefez num formalismo quase maníaco que elide personagens e fragmenta qualquer linha narrativa destrinçável: em "Shirin", a "história" está lá, mas aparece mediada por um aparato auto-reflexivo que faz do cinema, da projecção, do ecrã invisível, o ponto de partida e de chegada. Entende-se que a audácia da experiência (rostos sucessivos que desfazem a hipótese da aparente reportagem) crie problemas a quem continue a privilegiar uma arte narrativa linear. Entende-se até quem defenda que se trata mais de um objecto plástico, por vezes próximo da instalação, do que de um filme no sentido tradicional do termo. O que está fora de questão é o seu rigor, a sua beleza algo perversa, a inteligência de uma intervenção pensada sobre o mundo das imagens e sobre as suas contradições ou ambiguidades. Não é o cinema que nos entusiasma, mas que nos interroga. E não é pouco...
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