Recriação da Mocidade Portuguesa em Aveiro nas comemorações da República gera críticas
Dezenas de crianças vão desfilar amanhã com as fardas da Mocidade Portuguesa. A ideia já motivou queixas do BE
O que poderá levar, nos dias de hoje, dezenas de crianças a vestirem uma indumentária idêntica à da Mocidade Portuguesa e a desfilarem ao longo das ruas? A comemoração do centenário da República. A ideia já motivou queixas por parte do Bloco de Esquerda e vai passar à prática, amanhã à tarde, no âmbito de uma iniciativa promovida pelo agrupamento de escolas de Aveiro.
A recriação histórica, que irá percorrer as ruas da cidade aveirense, compreende encenações sobre a monarquia, regicídio, a primeira República, o Estado Novo, os Congressos da Oposição Democrática e o 25 de Abril. O objectivo passa por evocar a História de Portugal, desde a monarquia até à actualidade.
O deputado bloquista Pedro Soares fala antes num "revisionismo inaceitável da História". "É muito discutível que se considere o Estado Novo enquanto República", referiu ao PÚBLICO, ao mesmo tempo que criticava o facto de estarem a ser envolvidas "crianças do terceiro ano, ainda com pouca crítica histórica e política". Mais ainda. "Há queixas de alguns pais, que estão indignados", argumentou Pedro Soares, a propósito dos motivos que o levaram a questionar o Ministério da Educação sobre a iniciativa, há cerca de duas semanas.
Pedro Soares ainda aguarda pela resposta, mas o Ministério da Educação já terá dado o seu aval ao evento, a crer na informação avançada pelos responsáveis pelo agrupamento de escolas. Ao final da manhã de ontem, na conferência de imprensa que serviu para a apresentação do programa que irá envolver mais de 1200 crianças - provenientes de quatro jardins-de-infância e cinco escolas do 1.º ciclo do município de Aveiro - os responsáveis pela recriação histórica asseguraram não haver razão para polémicas.
Joaquina Moura, da organização, assegurou que "nada neste projecto leva para ideias de fascismo", deixando ainda a garantia de que "as coisas são trabalhadas nas escolas com dignidade e muito sentido de responsabilidade". Já no que concerne às queixas e indignação dos encarregados de educação, a responsável garantiu que "apenas um pai manifestou que não gostaria de ver a sua filha vestida com aquela indumentária".
Sobre as queixas do Bloco de Esquerda, Joaquina Moura considerou que resultaram de falta de informação e não foram fundamentadas: "Tenho pena que ao fim de tantos anos a viver em liberdade e democracia não haja ainda a abertura suficiente para se questionar as coisas. Se um deputado da nação queria saber o que se passava, bastava ter-se dirigido a nós". Aquela responsável lamentou, assim, que o deputado bloquista, eleito pelo círculo eleitoral de Aveiro, não tenha falado com os responsáveis pelo projecto. Segundo declarou Joaquina Moura, "a escola foi ofendida e até os pais dos outros alunos que colaboraram nesta iniciativa".
Com mais ou menos polémica, o desfile irá sair à rua, amanhã à tarde, em pleno centro da cidade de Aveiro. O programa da comemoração do centenário da República decorrerá entre as 14h e as 17h, culminando com a actuação da banda da GNR, e com o hino nacional entoado por todas as crianças, bem como uma largada de pombos, no jardim do Rossio. com Lusa