No final do ano passado, os Dead Combo voltavam a Lisboa para, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz, encerrarem uma digressão que os havia levado a diversas salas portuguesas. As pequenas dimensões do país não impediram que só então terminassem o périplo nacional de apresentação de "Lusitânia Playboys", álbum de 2008. O registo deste concerto-duplo originou um DVD, "Dead Combo and Royal Orquestra das Caveiras Ao Vivo no São Luiz", que, logo à noite, terá antestreia numa outra sala da capital, a terceira do Cinema São Jorge. Já lá vamos, voltemos a Novembro de 2009.
A noite, com lotação esgotada, começou ao som de "Despedida (até sempre)". Abrir um concerto com semelhante título não causa estranheza quando sabemos que estamos perante uma banda sem vocalista. Continuando no álbum que, há dois anos, tanto empolgou a "intelligentsia" portuguesa, o ritmo aumenta aos primeiros acordes de "Sopa de cavalo cansado". Até aqui, nada de novo no figurino habitual dos Dead Combo: a guitarra de Tó Trips do costume, o contrabaixo de Pedro Gonçalves do costume. A cartola e os óculos de sol ostentados, respectivamente, por cada metade deste duo, também marcam presença. Até que surge a principal novidade.
A condizer com o preto que predomina no palco, entra a Royal Orquestra das Caveiras. Ana Araújo senta-se ao piano e Alexandre Frazão na bateria. Ao fundo alinham-se João Cabrita no saxofone, João Marques no trompete e Jorge Ribeiro no trombone. "Aquela secção de sopros é a secção de sopros em Portugal", conta, ao Ípsilon, um orgulhoso Pedro Gonçalves. "Foi a junção de pessoas mais feliz que, até hoje, tivemos na nossa música".
A primeira faixa tocada pela Royal Orquestra das Caveiras foi "Rodada", uma das raras excepções num alinhamento repleto de temas "Lusitânia Playboys". O regresso a esse disco seria feito com "Cuba 1970". O concerto desenrola-se ao som da descarga de energia de "Malibu fair", e a viagem pelas canções que nos levam aos mais diversos cantos do mundo traz-nos de volta a Portugal, com "Rak song". Cada aplauso entre canções surge como uma surpresa. As câmaras estão tão focadas nas almas em palco que nos esquecemos que estamos perante um registo ao vivo.
O filme mostra uns Dead Combo iguais a eles próprios: de rostos cerrados e a soltar apenas as palavras necessárias. Não faziam ideia do que é que este concerto originaria, mas acreditamos que, mesmo que soubessem, agiriam da mesma forma.
Acontecimentos fortuitos
"A história deste lançamento é um feliz acaso, ideia de um amigo nosso, o [realizador] Daniel Neves. Ele já trabalhou umas mil vezes connosco e, poucos dias antes, sugeriu que era porreiro filmarmos o espectáculo", lembra Gonçalves. "Esta ideia surgiu bastante tempo depois. Ele andava sempre a perguntar o que queríamos fazer com aquilo. Pensámos em meter na net, fazer isto ou aquilo. A Patrícia Gonçalves [da editora] é que sugeriu lançarmos um DVD associados a um jornal", revela o contrabaixista, a apontar para o primeiro exemplar. A data de lançamento está prevista para terça-feira, com o PÚBLICO.
A verdade é que a carreira dos Dead Combo parece marcada por vários acontecimentos fortuitos. O projecto nasceu quando, no princípio da década, no final de um concerto do norte-americano Howe Gelb, ao qual ambos tinham assistido sozinhos, Tó Trips pediu uma boleia a Pedro Gonçalves. Em vão. Acabaram por seguir para o Bairro Alto, numa conversa que levou Tó Trips a convidar Gonçalves para, no contrabaixo, o acompanhar numa colectânea sobre Carlos Paredes.
Após a criação dos Dead Combo, seguiu-se o lançamento de quatro discos de originais. O sucessor de "Lusitânia Playboys" encontra-se em "pré-produção". Tó Trips diz que o lançamento será "entre o final de Setembro e o princípio de Outubro". Para já, "apesar de as câmaras municipais andarem todas a choramingar a crise", pretendem fazer-se acompanhar pelos Royal Orquestra das Caveiras nos mais diversos palcos. O primeiro é hoje, precedendo a antestreia do DVD.