Membro do Drumming-Grupo de Percussão, Nuno Aroso tem desenvolvido paralelamente uma interessante carreira a solo, bem como várias colaborações que envolvem intercâmbios com outras artes. O seu mais recente álbum ("Technicolor") é um projecto invulgar, já que o intérprete não se limita a tocar obras previamente concebidas. Foi antes pensado como um trabalho de autor em que o percussionista lança um desafio a vários criadores a partir de uma ideia base. Não obstante as diferenças de estilo e dos materiais utilizados, a percussão assume uma dimensão cinematográfica que evoca imagens e cores na mente do ouvinte, como se fossem pequenas bandas sonoras para filmes imaginários. Em "Vibraphone Theories", da australiana Amanda Cole, que trabalha também como "sound designer", a ideia da imagem toma forma literalmente através da associação ao vídeo.
As suas sonoridades subtis, quase etéreas, jogando com os efeitos do vibrafone e dos sons puros, contrastam por exemplo com "Três Quadros sobre Pedra", de Luís Pena, para percussão e sons pré-gravados. Esta obra constitui uma original exploração de sonoridades, ritmos e texturas obtidas a partir de pedras de diversos tamanhos e formas. Longe de ser um catálogo de efeitos, resulta numa composição minuciosamente elaborada e solidamente arquitectada.
Mas o alinhamento contém ainda outras imaginativas narrativas sonoras: "Samplers'Union", página de atmosfera inquietante criada numa parceria entre Nuno Aroso e Luís Tinoco; "Frame", de Mário Laginha, com a sua rítmica contagiante; e "Lux in Tenebrae (the mercy seat)", de Eduardo Patriarca. No início, no meio e no fim, o próprio Nuno Aroso criou miniaturas - "Intro to Technicolor in Orange", "Hearts and White", "Red Cage Intermission" e "Fim" - que revelam o seu talento criativo a par da exímia técnica e expressividade como intérprete que mostra na execução de todas as peças. O trabalho cuidadoso estende-se ao design gráfico do álbum e aos textos de Jorge Castro Ribeiro e valter hugo mãe que o acompanham.