As atenções voltam-se de novo para o bairro da Bela Vista e desta vez é por boas razões

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Em 2009, a Bela Vista foi notícia por causa de confrontos NUNO FERREIRA SANTOS

Espaços públicos vão entrar em obras, porque a câmara quer melhorar a vida numa das zonas residenciais mais difíceis a sul do rio Tejo. Moradores esperam para ver o resultado

No Bairro da Bela Vista, em Setúbal, os nomes das zonas residenciais são coloridos, mas a realidade dos cerca de 4500 habitantes que ali moram, distribuídos pelos bairros azul, amarelo e cor-de-rosa é bem menos alegre. No último ano, este aglomerado populacional foi notícia pela insegurança, violência, agitação social. Desta vez, não. A Câmara de Setúbal aprovou um plano de recuperação dos espaços públicos nos bairros amarelo e cor-de-rosa, um sinal de esperança para moradores que, porém, recebem a boa nova com alguma desconfiança.

"Promessas há muitas, mas obras não vejo nada. Só vendo. Só acredito vendo", diz Cristina Costa, uma moradora. "Os bairros todos aqui à volta já foram arranjados. Só a Bela Vista é que há 30 anos não leva uma tinta", acrescenta António Mendes.

A primeira empreitada custará 1,6 milhões de euros e vai arrancar daqui a dois meses. É a única com concurso. O restante, 1,9 milhões em obras, será entregue por ajuste directo, repartido em dezena e meia de empreitadas que, no entanto, deixa de fora o bairro azul, o mais problemático em termos de conflitos sociais. Por agora, a sorte cabe apenas aos habitantes das zonas amarela e cor-de-rosa. Para o outro, fala-se num destino bem diferente: a demolição. Antes disso, é preciso encontrar alojamento alternativo. Há responsáveis que admitem este cenário, mas ninguém fala em prazos.

Em Maio de 2009, a Bela Vista chamou a atenção do país por causa de tumultos ocorridos na sequência da morte de um filho do bairro. Muita gente mobilizou-se para, depois disso, tentarem sacudir a má imagem que ficou colada à Bela Vista. Um ano depois, parte dessa mesma população voltará a ser chamada a ajudar o bairro, porque a requalificação dos prédios será feita pelos próprios moradores, que depois terão de zelar pela manutenção, salienta a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira. A autarquia limitar-se-á a recuperar espaços comuns, passeios, iluminação pública, pavimentos, e a plantar árvores. Na imagem virtual que tenta dar uma ideia da Bela Vista pós-obras, vêem-se duas dezenas de logradouros e pátios recuperados e luminosos, no meio de prédios que aparecem a cinzento. Certamente ajuda a destacar o que vai mudar - ao mesmo tempo que lembra que outro tanto continuará na mesma.

O pólo da biblioteca também será reabilitado. O programa de intervenções é vasto, o prazo de conclusão aponta para 2011. No programa está também a recuperação de espaços desportivos e parques infantis. Apenas um edifício privado será recuperado. Esta é, aliás, uma das principais queixas da autarquia. "O Estado não tem qualquer programa que permita a recuperação de habitações", explica o vereador Carlos Rabaçal. Os anos de 2000, 2002, 2007 e 2009 foram profícuos em notícias sobre a Bela Vista. Geralmente com imagens de chuvadas de pedra, de caixotes do lixo a arder e cargas policiais. Da última vez, a autarquia prometeu cuidar da Bela Vista. A promessa começa a cumprir-se, mas há uma dúvida a moer ainda os moradores: quando é que a Bela Vista pode fazer jus ao nome? com Lusa

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