Norte é o rosto da crise que afecta a indústria
O máximo histórico de desemprego com que a região norte fechou o ano de 2009, ao atingir uma taxa de 11 por cento, é o rosto da crise que está instalada em Portugal. Ou melhor, já são 217 mil rostos o número de pessoas no desemprego, e para o qual as indústrias transformadoras entregaram, só no ano passado, mais 28 mil casos. O sector exportador de bens transaccionáveis está instalado em peso na região norte do país e tem sido particularmente aqui que se sentem os efeitos da sucessiva "desfabrilização" - termo usado por Esser Jorge, sociólogo da Universidade do Minho, numa recusa da palavra "desindustrialização", porque a norte, demonstra na tese "Fabricados na fábrica", a indústria trouxe poucas melhorias no tecido social.
Mas não é só porque estão no Norte as indústrias que viram as suas exportações sucumbir perante a concorrência asiática e o alargamento do mercado europeu que a crise está instalada e o desemprego atingiu máximos históricos. "É também porque as políticas públicas têm continuado a esmagar a sociedade e as empresas, ao negligenciarem a aposta em mudanças estruturais, como a justiça, a educação e a administração pública", diz um desassombrado António Marques, presidente da Associação Industrial do Minho (AIM).
"Em 20 anos quase nada foi feito. As PME, que representam 99,8 por cento do tecido empresarial, continuam a ser um sector muito pouco protegido. Que apoios existem hoje às exportações? Objectivamente, nada!", afirma. "A actual conjuntura só veio dar visibilidade a esta brincadeira." O presidente da AIM reafirma que os empresários não devem esperar que o Estado faça tudo por eles, mas insiste que "é de cima que tem vindo o mau exemplo". "Não há políticas públicas de incentivo à poupança. Produzimos dez euros, gastamos onze. Um dia tinha de estourar", antecipa.
Ou já estourou, admite António Figueiredo, da Faculdade de Economia do Porto, prevendo que os números do desemprego vão continuar elevados durante "mais algum tempo" e que as prioridades do investimento público terão de ser canalizadas para uma almofada social que alivie as "dores de ajustamento" que vão continuar instaladas. "Prefiro essa almofada social a três auto-estradas. O discurso de que as infra-estruturas nos trazem competitividade é uma grande falácia", acrescenta.
Manuel Caldeira Cabral, professor de Economia na Universidade do Minho, alerta que a recuperação económica do país não poderá ser conseguida sem um avanço da economia regional e prefere sublinhar os sinais positivos que já começam a emergir, apesar de ainda existir "um grande espaço para preocupação". Caldeira Cabral opta por desfocar a análise do tema da competitividade no desempenho do sector exportador dos bens transaccionáveis, para atentar nos bons resultados conseguidos no sector dos serviços e nas empresas de maior base tecnológica. "O ajustamento da qualificação dos recursos vai demorar mais uma geração. É preciso, por isso, continuar a procurar soluções para a mão-de-obra pouco qualificada." Luísa Pinto