Homens homossexuais lidam pior com o estigma social

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As mulheres aceitam melhor o casamento entre pessoas do mesmo sexo Rui Gaudêncio (arquivo)

O trabalho feito junto da população LGBT em Portugal foi coordenado pela professora da Universidade do Minho (UM) Conceição Nogueira e pelo investigador João Manuel Oliveira - teve ainda a colaboração do deputado do PS Miguel Vale de Almeida - e concluiu que, para os homossexuais e transexuais, Portugal continua a ser um país homofóbico. "Estas pessoas ainda se sentem ameaçadas e discriminadas em função da sua orientação sexual e identidades de género", refere o documento, a que o PÚBLICO teve acesso.

O Sul e as áreas metropolitanas de Porto e Lisboa são as regiões onde há uma maior abertura para falar sobre a sexualidade. As regiões do Centro e Norte mostram valores inferiores, mas são as ilhas as regiões do país onde a abertura ao tema é menor. Face a esta realidade, homossexuais e transexuais optam pela ocultação da sua orientação, concluiu o mesmo trabalho: "É uma das modalidades a que recorrem para evitar o peso do estigma social."

"O insulto é das mais recorrentes formas de estigmatização efectiva a que as pessoas LGBT estão sujeitas", avançam ainda os investigadores. As pessoas que responderam aos inquéritos que estiveram na base do estudo dizem já ter sido insultadas três ou mais vezes em função da sua orientação sexual.

Por outro lado, para homossexuais e transexuais, as instituições religiosas, especialmente a Igreja Católica, são aquelas que mais discriminam com base na identidade sexual, seguindo-se o Estado. A população LGBT considera-se discriminada por quase todas as instituições, excluindo os bancos, as instituições de saúde e os meios de comunicação social.

"Bastante discriminados"

O Estudo sobre a População LGBT em Portugal teve por base um inquérito respondido por 972 pessoas LGBT e demonstra uma "elevada sensibilidade ao estigma" por parte destes indivíduos. A identidade é um aspecto importante e central na vida destas pessoas, que demonstram uma "concordância elevada com a privatização do comportamento sexual".

O estudo feito pela UM para a CIG avaliou também a imagem social das pessoas LGBT e a opinião da população face ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. As respostas de 1498 pessoas a um segundo inquérito revelam que as mulheres apresentam atitudes mais positivas que os homens em relação ao casamento homossexual.

Os dados mostram ainda que, quanto mais à esquerda for o posicionamento ideológico de quem responde, maior é a concordância com o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Os investigadores apontam também que o maior contacto com a diversidade sexual faz aumentar o grau de acordo com esta questão.

O estudo identifica um peso considerável da religião nas opiniões dos portugueses. Ateus e agnósticos apresentam médias superiores de respostas em que valorizam o movimento LGBT e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Pelo contrário, entre aqueles que se assumem como religiosos há um maior relevo de respostas que se identificam com o heterossexismo tradicional, aversão a lésbicas e fobia face a pessoas transexuais.

Quanto à imagem social que os portugueses têm das pessoas LGBT, o estudo observa que a percepção das pessoas é a de que os transexuais são "o grupo mais discriminado", seguindo-se-lhes os ciganos. Gays, lésbicas e bissexuais são também considerados "bastante discriminados", encontrando-se no mesmo intervalo das pessoas deficientes.

Apesar desta percepção da discriminação, a grande maioria dos participantes revelaram nunca ter tido comportamentos insultuosos ou de ataque a alguém em função do género. O estudo nota também que "parece haver uma concordância relativamente à igualdade moral da homossexualidade" e à "não condenação da homossexualidade masculina" percebida entre a população portuguesa.

"Tendencialmente, as respostas vão no sentido do igualitarismo, em que gays e lésbicas e pessoas heterossexuais deverão ter igualdade de oportunidades", afirmam os investigadores, no relatório que hoje será apresentado.

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