Os jovens cantam e dançam enquanto esperam por Kiko
Mais de 25 mil pessoas são esperadas para receber os iniciadores de O Caminho Neocatecumenal no Santuário de Fátima
Nas ruas o trânsito está parado. A missa terminou, o adeus à Virgem com o lenço branco está cumprido, o Papa passou e os peregrinos começam a deixar os quartos de hotel ou a embrulhar as tendas e a arrumá-las nos automóveis para voltarem às suas rotinas. O 13 de Maio está cumprido mas apenas para alguns. No recinto, já há quem recolha o lixo, lado a lado com grupos de jovens que cantam e dançam em espanhol, italiano e francês. Pertencem ao movimento O Caminho Neocatecumenal (OCN), criado na década de 1960, em Espanha, pelo pintor Kiko Arguello, por Carmen Hernández e pelo padre Mario Pezzi.
Hoje, em Fátima, são esperadas mais de 25 mil pessoas do OCN para ouvir Kiko pregar e fazer um chamamento à vocação. É o encontro europeu vocacional de jovens, um momento importante para os jovens que vão ser chamados a comprometerem-se mais com Cristo.
As guitarristas sentadas no chão, em círculo, e à volta um grupo de raparigas que cantam, dançam, batem palmas e pandeiretas. A observá-las estão alguns rapazes e adultos. São italianos, de Pádua, Bolonha e Modena, são mais de 90, jovens e adultos, mas ali estão uns 30. O cântico repete a palavra "aleluia" e as jovens dançam em roda fazendo uma coreografia ao ritmo da música. Mais abaixo, junto à Capelinha das Aparições há um grupo de espanhóis que também canta e rodopia.
Os jovens neocatecumenais são facilmente identificáveis. São alegres. Quando não estão a tocar, trazem instrumentos às costas, bandeiras dos países de origem e um ícone de Maria com Jesus ao colo. Gostam de cantar e dançar, confessa Maria, italiana, porque estão a louvar Cristo e a dar a Boa Nova. "Porque acreditamos que Deus é importante na nossa vida", responde Emanuel, 21 anos, de Modena.
"Porque quanto mais perseguida é a Igreja, mais forte se torna", defende Teresa Leitão, 40 anos, de Caxias. "Há uma explosão de alegria e os jovens manifestam o que estão a sentir", explica António d"Orey da Cunha, da mesma comunidade, pai de 12 filhos e avô de 30 netos, que continua: "As nossas celebrações são muito festivas e os jovens estão numa missão popular", ou seja, a evangelizar nas ruas.
De Castellón vieram 30 jovens para ver o Papa e estar com Kiko, o fundador, ou melhor, o iniciador do OCN. "Viemos para escutar e apoiar o Papa", conta Juan, 23 anos. De Madrid, Juan Carlos, sacerdote, começa por não querer falar com o PÚBLICO porque "a comunicação social maltrata a Igreja e deturpa tudo", mas acaba por justificar a sua vinda com a necessidade de apoiar o Papa que tem sido "falsamente acusado e tão criticado, mas a Igreja une-se em seu redor".
Estão em locais diferentes mas o discurso está sintonizado. Emanuel, o italiano, também lamenta a "perseguição feita" mas acredita que a "Igreja vai renovar-se internamente". Para ele, o pior não é a pedofilia mas sim a sociedade dessacralizada, "a perda de referências sagradas, as famílias que não educam cristãmente".
Por isso, hoje é um dia importante, rejubila Emanuel, porque vai ouvir "a palavra de Kiko". "Não é tão importante como o Papa, mas é um instrumento de Deus na Terra", acredita.
O OCN, que nasceu após o Concílio Vaticano II, nos bairros- de-lata de Madrid, na tentativa de ajudar os mais pobres, propõe que os cristãos redescubram o baptismo e se renovem internamente. Actualmente, tem dois seminários em Portugal onde estudam cerca de 40 rapazes, de todas as partes do Mundo. São os iniciadores - Kiko, Carmen e o padre Mario - que escolhem os seminários para onde vão estudar. Assim como é Kiko que faz a pregação e chama os rapazes e as raparigas para uma vida consagrada.
Hoje, em Fátima, no recinto do santuário vai ser montado um estrado de onde será feita a celebração, a chamada de vocações, a qual será presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa. É do cimo desse estrado que Kiko vai chamar rapazes e raparigas, de todo o mundo, eles para presbíteros, elas para freiras de clausura, porque "é o que se sente mais necessidade na Igreja", explica António d"Orey da Cunha. E também aqueles que queiram iniciar o caminho para o namoro e casamento, acrescenta. "Os encontros também servem para constituir família", resume.
"O OCN é uma festa. É exigente porque há um chamamento contínuo. Pode ser um caminho de conversão muito sério. O cristianismo é exigente", conclui d"Orey da Cunha. Na rua, continuam a ouvir-se os batuques, as guitarras e as canções.