Cracóvia, única e requintada

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Cracóvia é uma cidade de atmosfera única, que encanta pelo seu presente e impressiona pelo seu passado.

Conhecer Cracóvia é caminhar pelas suas ruas repletas de história e de gente animada e ver que a cada canto a cultura fervilha.É percorrer o bairro judeu, ver as suas sinagogas, os seus cemitérios, as lojas judaicas e descansar numa esplanada do hotel pertencente a Helena Rubinstein, vendo passar o tempo e a história que marcou aquele ponto da cidade.

Conhecer Cracóvia é sentir que Copérnico ali estudou e que, desde então, o Sol passou a ser o centro do Universo. É sentir, ainda, que o Papa João Paulo II, tão amado pelos polacos, ali viveu, estudou e foi professor na sua universidade, tendo deixado para sempre a marca da sua presença bondosa e solidária.

Conhecer Cracóvia é sentir que no interior da Catedral de Santa Maria, que domina a grandiosa Praça Central ou Praça do Mercado, encontramos uma imagem de Nossa Senhora de Fátima, que, com o seu manto de uma brancura celestial, sobressai no meio de todas as cores vivas e douradas que decoram o interior da catedral, e que fazem dela uma verdadeira "pérola".

Depois, é sentir a vida boémia, gastronómica e cultural que espreita a cada canto, nas ruas, nos cafés, nos restaurantes. E ficam-nos na retina imagens de crianças de tranças louras tocando violino, grupos de músicos tocando árias de Bach ou de Mozart, teatros de marionetas, palhaços que animam a pequenada. E tudo aquilo nos fascina, pela sua beleza e originalidade.

Conhecer Cracóvia é ficar-se sentado numa requintada esplanada de café, saboreando uma bebida e vendo passar caleches puxadas por elegantes cavalos, que com o seu trote nobre e cadenciado nos envolve numa doce magia.

Mas, a cerca de 70 quilómetros de Cracóvia, todo este ambiente angélico e acolhedor transforma-se numa espécie de "inferno": Auschwitz é Auschwitz. Não necessita de explicações. Somente não compreendemos como pôde acontecer.

Descemos dos autocarros que nos levam até lá, transpomos o portão do campo, com a sua placa irónica e sarcástica: "Arbeit Macht Frei", "O trabalho liberta". Percorremos em silêncio os seus vários edifícios e quarteirões, enquanto escutamos atentamente a guia do campo, que, com os seus olhos muito verdes e brilhantes, nos vai mostrando todas aquelas infames marcas de tortura, sofrimento e morte.

Estacamos em frente do muro dos fuzilamentos e entramos na câmara de gás e nos fornos crematórios. Ninguém ousa falar.

E sempre em silêncio seguimos para Birkenau (ou Auschwitz II). Encontro-me aí com um grupo de soldados israelitas. Estão formados e na frente um deles segura a Tora Sagrada.

Ao longe, no meio do campo e ao lado dos carris de caminho de ferro, onde os vagões chegavam empilhados de gente condenada a morrer, vejo um soldado israelita, solitário, tocando clarinete. Não consigo escutar a sua música, pois o soldado está longe. Mas sinto a sua angústia. Já ali estava quando cheguei e ali fica quando parto.

Ninguém se aproxima dele, como que compreendendo e respeitando a sua necessidade de estar só, com a memória daqueles que ali sofreram e morreram.

Graça Ribeiro

Figueira da Foz

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