Filme de bombistas causa polémica
A estreia está marcada para esta sexta-feira mas familiares de vítimas dos atentados de Londres de Julho de 2005 continuavam ontem incansáveis na tentativa de evitar que as salas de cinema passassem o filme. Four Lions é uma comédia do polémico realizador satírico Chris Morris, sobre quatro aspirantes a bombistas-suicidas que viajam para Londres com a missão de preparar um atentado durante a maratona.
O problema, dizem os familiares, é que, como na realidade, os bombistas do filme viajam de comboio da cidade de Leeds, no Yorkshire (Norte de Inglaterra), para Londres, e são todos britânicos de origem muçulmana. Para eles, o filme contém elementos muito específicos que suscitam uma colagem muito próxima da realidade.
Nessa manhã de 7 de Julho de 2005, 52 pessoas morreram naqueles que viriam a ser confirmados como os primeiros ataques kamikaze realizados na Europa ocidental e inspirados pela Al-Qaeda de Bin Laden.
Entre as vítimas estavam David Foulkes, de 22 anos, e Philip Russell, de 28. Os seus pais viram o trailer e outras passagens de Four Lions na Internet e dão voz ao apelo a um boicote do filme.
"[O filme] Está muito alinhado com o que aconteceu em 2005 e eles falam de pôr bombas em Londres. Isso não é parodiar ou fazer sátira sobre terroristas. É fazer dinheiro com um atentado específico", disse o pai de David, Grahame Foulkes, à Rádio 5 da BBC, mesmo reconhecendo que a sátira desempenha um papel no tratamento de temas sérios. Mas não neste caso, insiste.
Também Grahame Russell, pai de Philip, não viu "qualquer humor" num filme que mostra quatro pessoas a fabricar bombas "com o objectivo de matar pessoas inocentes no metro" de Londres.
Na realidade, na manhã do dia 7 de Julho, depois de chegarem de Leeds, três dos quatro bombistas foram vistos na estação de King"s Cross, onde se separaram. Vinte minutos depois, houve três explosões no metropolitano de Londres e, quase uma hora mais tarde, outra num autocarro de dois andares, cheio de gente que procurara transporte após a evacuação do metro. Os quatro morreram nas explosões.
O actor Kayvan Novak, que interpreta um desses homens, explicou: "O filme é sobre bombistas-suicidas, mas o filme não explora o sofrimento das vítimas dos atentados." Também o actor Arsher Ali referiu que o filme era antes de mais uma comédia que mostra as coisas "inerentemente cómicas e humanas" em todas as situações, mesmo quando se trata da preparação de um acto terrorista. "Nenhum de nós desculpa [os bombistas]. Mas há histórias humanas que merecem ser contadas e podem ser bastante comoventes", afirmou. A.D.C.