O fim das disquetes está cada vez mais próximo
Não tem capacidade para uma única canção em formato mp3. Está ultrapassada pelas pendrives. Mas há um recanto do computador onde a disquete promete ficar durante anos
Durante anos, as disquetes foram a tecnologia mais comum para transportar ficheiros. Tinham muitas vantagens: eram baratas, podiam ser reutilizadas, cabiam no bolso (uma prática que podia facilmente causar estragos) e serviam para as necessidades da maioria dos utilizadores. Mas, em termos tecnológicos, a era das disquetes terminou há muito tempo. Talvez há uns seis ou sete anos.
Quem começou a usar computadores nos últimos anos (nos países desenvolvidos, pelo menos, onde os computadores tendem a ser recentes) provavelmente nunca precisou de usar uma disquete. O pequeno dispositivo permite guardar ficheiros até um total de 1,44 megabytes (MB) de dados - uma capacidade de armazenamento que não chega sequer para transportar uma canção em formato mp3 com a qualidade de som que hoje se considera aceitável (estes ficheiros, tipicamente, ocupam 1MB por minuto; três minutos de música equivalem a duas disquetes).
Na semana passada, a Sony deu mais um passo para o fim da tecnologia. A empresa anunciou que, a partir do próximo ano, vai deixar de produzir e vender disquetes no Japão, um dos poucos mercados onde ainda as comercializava - e onde vendeu 12 milhões de disquetes (equivalente a 70 por cento do mercado nipónico) só no ano passado. Os compradores eram sobretudo escolas e instituições que usam computadores antigos. Em Março, a empresa já tinha abandonado a venda de disquetes na maioria dos países. Quando deixar de as vender no Japão, sobrarão apenas alguns mercados de nicho - essencialmente a Índia, onde a maioria das pessoas usa tecnologia já datada.
A decisão da Sony tem um carácter simbólico. A empresa foi uma das que estiveram na origem da disquete, no início dos anos 1980 (a par de outros pesos-pesados da indústria, como a HP e a IBM). Nessa altura, começava a era dos computadores pessoais e surgiram vários modelos de disquete, com tamanhos e capacidades diferentes. O modelo que acabou por chegar aos dias de hoje surgiu em 1987 e tem por nome completo "disquete de 3,5 polegadas de alta densidade". Dentro da caixa de plástico está um disco fino e flexível, com 3,5 polegadas de diâmetro, ou seja, cerca de 90 milímetros.
A Sony esteve também na génese de muitas tecnologias que ultrapassaram a disquete. Logo em 1988, desenvolveu, com a Philips, a tecnologia do CD gravável, embora este dispositivo só em meados da década seguinte chegasse ao mercado de consumo. Depois, foi a vez do DVD, em parceria com a Toshiba e a Philips. E o mais recente disco blu-ray (cuja capacidade pode chegar a perto de 35 mil disquetes) também é tecnologia Sony.
Morte anunciada
Em 1998, a Apple, que tinha também sido uma das impulsionadoras do formato, ao adoptá-lo nos primeiros computadores que comercializou, foi alvo de críticas quando apresentou um novo modelo de Macintosh sem leitor de disquetes (quem quisesse, podia usar um leitor externo, ligado ao computador através de um cabo USB). Porém, a maior parte dos fabricantes de computadores acabou por seguir as pisadas da Apple e os leitores de disquetes integrados desapareceram.
Nos tempos áureos, uma disquete podia transportar um jogo de computador inteiro ou até um sistema operativo - mesmo o Windows 95, da Microsoft, tinha uma versão em várias disquetes, para quem ainda não tivesse um leitor de CD instalado no computador.
O aparecimento dos CD foi precisamente um dos factores a ajudar à queda das disquetes. Contudo, e durante vários anos, estes dois suportes co-existiram, dado que os CD apresentavam inconvenientes: eram mais caros, nem todos podiam ser reutilizados, eram maiores e mais dificilmente transportáveis, e riscavam-se com facilidade, ao passo que uma disquete podia ser pousada despreocupadamente em cima de qualquer secretária. Com o aparecimento de cartões de memória e das populares pendrives (o primeiro modelo surgiu em 2000 com uma capacidade de 8MB) a disquete acabou por se tornar obsoleta.
Parte da metáfora
A tecnologia, contudo, foi muito importante no aparecimento dos computadores pessoais e acabou por conseguir então um lugar que promete durar anos. Nessa altura, as empresas de tecnologia procuravam uma forma de fazer com que a utilização dos PC fosse mais simples - sobretudo, mais simples do que trabalhar exclusivamente através de comandos de texto sobre um ecrã preto. Em 1983, a Apple (inspirada no trabalho pioneiro da Xerox) começou a comercializar um computador com uma interface gráfica, mais semelhante aos sistemas operativos actuais. Essa interface, tal como ainda acontece hoje, é essencialmente uma grande metáfora, que se chama "metáfora do desktop" e que recria um ambiente de escritório: por exemplo, os documentos são guardados em "pastas" e apagar um ficheiro implica colocá-lo num caixote de lixo virtual. A velha tecnologia das disquetes faz também parte desta metáfora. Na esmagadora maioria dos programas de computador, guardar um documento ou um ficheiro pode ser feito com um clique num pequeno ícone em forma de disquete.