A pátria sou eu- Orbán é um governante com planos para os próximos 20 anos
Viktor Orbán, o líder do Fidesz e próximo primeiro-ministro da Hungria, consegue algo inédito na Europa que até há 20 anos era comunista: ser eleito com uma maioria de dois terços. E volta ao poder, que deixou com pouca vontade, ao perder as eleições em 2002. Confrontado com os resultados das legislativas que punham fim aos seus quatro anos como primeiro-ministro, não hesitou em tentar levar os seus apoiantes para a rua para contestar os resultados, com uma frase recordada pelo Le Monde e que dá bem a entender a fibra de que é feito: "A pátria não pode estar na oposição."
Hoje os húngaros parecem bastante satisfeitos com Orbán, que em 1989 - ainda um jovem de 26 anos - discursou na Praça dos Heróis de Budapeste exigindo eleições livres e a retirada das tropas soviéticas. Jurista de formação e estratego de longo prazo, depois da derrota de 2002 endureceu o discurso. Tornou-se o campeão das minorias húngaras que vivem nos países vizinhos após o desmantelamento da Grande Hungria pelo Tratado de Trianon, em 1920, recorda a L"Express. Tal como outros observadores, a revista francesa atribui-lhe responsabilidades no surgimento de outro partido cujo extremismo de tom retrógrado assusta a Europa - o Jobbik.
Orbán, conservador e populista, criou um movimento de organizações populares, para lá do partido, com que pretendia mobilizar o "povo de direita" - e alguns destes "círculos cívicos" revelaram-se mais radicais e foram as sementes do grupo que se formou em torno de Gábor Vona, o líder do Jobbik.
Racista e xenófobo, contra a União Europeia, olhando sempre para as injustiças do Tratado de Trianon, desejoso de punir o "crime cigano" e expulsar os judeus das terras magiares - um discurso odioso que parece saído dos tempos de antes da II Guerra - é o que caracteriza o Jobbik. "O Fidesz legitimou o discurso de exclusão. Preparou a cama para o Jobbik", disse à L"Express Attila Ara-Kovacs, director de um think-tank húngaro.
Como vai agora Orbán lidar com o Jobbik é uma das incógnitas. Há quem aposte muito nele. "Ninguém brinca com Orbán. É um lutador. Se ele considerar o Jobbik uma ameaça, vai acabar com ele", disse ao New York Times Peter Rona, um economista que conhece o futuro primeiro-ministro húngaro e a sua personalidade autoritária.
A economia é o principal desafio de Orbán - terá de gerir as condições de um empréstimo de 20 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia. No ano passado, a economia contraiu-se 6,3 por cento, e neste ano parece estagnada. Ele prometeu criar um milhão de empregos em dez anos, mas foi parco em detalhes sobre como conseguirá isso.
E note-se: Orbán (que fará 47 anos a 31 de Maio) tem planos para dez anos, não para os quatro do mandato para o qual é eleito.
Num discurso no fim de 2009 previa que nos próximos 15 a 20 anos a política húngara poderia definir-se por "uma força política central", em vez do sistema dual dos últimos 20 anos, após a queda do comunismo. "Empenho-me pessoalmente em que, em vez de uma política marcada por lutas permanentes, se privilegie uma política cujo objectivo seja a governação permanente." Que se leia como se quiser. Clara Barata