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Colecção Berardo abre museu subterrâneo na Bairrada onde a arte convive com o vinho

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A intervenção nas caves custou cerca de um milhão de euros PAULO PIMENTA

O quarto museu da Colecção Berardo é hoje inaugurado em Sangalhos e as peças pertencem a sete colecções de arte diferentes

É nas salas húmidas e nos túneis sombrios das Caves Aliança, onde repousam, há décadas, vinhos, espumantes e aguardentes, que centenas de peças de sete colecções do acervo artístico de Joe Berardo têm agora nova residência. "Aliança Underground Museum" é o nome do novo espaço museológico da colecção Berardo, que abre hoje ao público em Sangalhos, na região da Bairrada, e que tem por objectivo cruzar "a arte de fazer vinhos com a arte" e criar uma novo tipo de oferta turística e cultural.

Ao contrário do Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, que é dedicado à arte moderna e contemporânea, as peças que integram o "Aliança Underground Museum" são originárias de contextos culturais e artísticos muito diferentes. São artefactos exóticos, mas também minerais, fósseis e peças heterogéneas de azulejaria, provenientes de sete colecções distintas de Berardo: a colecção Arqueológica, a de Arte Etnográfica Africana, a de Escultura Contemporânea do Zimbabué, a de Minerais, a de Fósseis, e a de Cerâmica das Caldas.

O desafio que se colocou aos responsáveis da Colecção Berardo foi o de adaptar um espaço com mais de setenta anos, ligado à produção de vinho, para acolher uma colecção com centenas de peças, mas mantendo intacta a função das caves, onde repousam todos os espumantes e aguardentes da marca Aliança, Vinhos de Portugal (que desde 2007 pertence a Joe Berardo). A intervenção custou cerca de um milhão de euros e, ao contrário do que acontece num museu tradicional, neste caso, para montar a exposição, foram precisos serralheiros, soldadores, carpinteiros, entre outros, enumera Zaid Abdali, coordenador da colecção Berardo.

"É um espaço com ambientes muito fortes e a experiência de montar a exposição aqui foi completamente nova, houve uma enorme quantidades de pessoas e profissionais que trabalharam para pôr isto de pé", diz Álvaro Silva, director adjunto do Museu Monte Palace, um dos quatro museus da Colecção Berardo. As primeiras salas do museu são quase exclusivamente dominadas por arte proveniente do continente africano, naquela que podia ser uma exposição de etnografia e de história natural: da colecção arqueológica, sobressaem um conjunto de figuras em terracota com cerca de 1500 anos, do conjunto de Arte Etnográfica Africana destacam-se as misteriosas máscaras de madeira, perfiladas ao longo das paredes. Depois, o visitante depara-se com um labirinto de 7.500 metros quadrados de túneis, salas e caves onde cada colecção encontrou um espaço próprio, sempre partilhado com o mundo do vinho.

O resultado é surpreendente e desconcertante: num túnel, na penumbra, perfilam-se centenas de amostras de minerais e fósseis, alguns com mais de 20 milhões de anos; na cave dos vinhos, onde os cascos de carvalho se amontoam quase até ao tecto, foram colocados nas paredes azulejos de origem portuguesa e francesa, do século XVIII até à actualidade; na cave das aguardentes, onde o líquido espirituoso repousa em enormes barricas e tonéis, há vistosos candeeiros dourados que descem do tecto e iluminam os subterrâneos a meia-luz; na sala das faianças e cerâmica, de autores como Rafael Bordalo Pinheiro e Manuel Cipriano Gomes, ouvem-se, ao longe, as garrafas de vinho a tilintar na linha de produção. "É uma experiência sensorial intensa e inusitada. O espaço e as peças interagem muito bem e fazem uma apologia completa dos sentidos", descreve Álvaro Silva.

Este é o quarto espaço museológico do espólio do comendador Joe Berardo no país, que se junta ao Museu Colecção Berardo (CCB), ao Sintra Museu de Arte Moderna e ao Museu Monte Palace (Madeira). No "Aliança Underground Museum", que adaptou o logótipo do metro de Londres, as visitas são para já gratuitas.

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