Bispo belga demite-se depois de confessar abuso sexual a menor durante vários anos

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Roger Vangheluwe, ontem, quando anunciou a sua demissão FRANçOIS LENOIR/REUTERS

A confissão segue-se a uma denúncia de familiar de vítima à comissão que investiga abusos na Bélgica. Vaticanistas dizem que Papa está a agir para deixar a "casa limpa"

O escândalo de pedofilia na Igreja Católica prosseguiu ontem com a primeira demissão de um bispo reconhecendo que ele próprio abusou sexualmente de um menor. O abuso, confessou, ocorreu não só enquanto foi padre mas também quando começou o bispado.

O bispo de Bruges, Roger Vangheluwe, 73 anos, é o último de uma série de bispos a pedir a demissão, mas é o primeiro que o faz por ter, ele próprio, sido responsável por abusos (as restantes demissões foram devido a casos de encobrimento de abusos por padres). O Papa Bento XVI aceitou de imediato a demissão de Vangheluwe.

"Antes de ser bispo e durante algum tempo depois, abusei sexualmente de um jovem rapaz que me estava próximo", afirmou o Vangheluwe lendo uma declaração numa conferência de imprensa em Bruxelas. "Isto marcou a vítima para sempre", afirmou. E acrescentou: "A ferida nunca sara. Nem na vítima nem em mim."

A agência francesa AFP explicava que o crime do bispo já prescreveu (terá ocorrido há mais de 20 anos), embora não tenha sido claro quando começou e quando terminou. Vangheluwe foi ordenado padre em Bruges quando tinha 26 anos e foi nomeado bispo aos 48 anos - era o bispo que há mais tempo exercia funções na Bélgica. Apesar de não ser possível uma punição legal, a Igreja poderá decidir castigá-lo, reduzindo-o ao estado laical (impedindo-o de exercer funções sacerdotais).

A confissão do bispo surgiu depois de a família da vítima se ter queixado a uma comissão que foi instaurada na Bélgica para ouvir casos de abusos sexuais, que está a investigar cerca de 20 queixas, segundo a agência Reuters. O chefe da Igreja belga, André-Joseph Léonard, explicou que a decisão do Vaticano em relação ao bispo belga foi "imediata".

Ainda esta semana o Papa tinha afirmado que a Igreja levaria a cabo "acções" para lidar com esta crise, no comentário mais directo até agora de Bento XVI aos escândalos de pedofilia.

Vaticanistas dizem que o Papa está a mostrar vontade de pôr em prática uma "operação casa limpa" face a estes escândalos, segundo a AFP. Na véspera, Bento XVI tinha também aceite a demissão de um bispo irlandês, James Moriarty, que tinha pedido a demissão em Dezembro, dizendo que deveria ter "posto em causa" a política de segredo em relação aos abusos sexuais cometidos por padres.

Enquanto isso, ainda ontem surgiu mais uma acusação em Itália: uma associação de luta contra a pedofilia disse que o Vaticano e a Igreja italiana não tinham tomado medidas contra um padre pedófilo. Mesmo depois de a situação ter sido comunicada a cinco altos responsáveis da Igreja o padre continuou em funções. "Durante um ano, continuou a abusar de menores", diz o presidente da associação La Caramella Buona, Roberto Mirabile. O padre Ruggero Conti, 56 anos, foi preso em 2008 e está actualmente a ser julgado por abusos sexuais a dois menores.

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