Antigo dono da TVI comunicou ao Governo a venda à Prisa por "cortesia", mas acredita que a actual gestão da PT não ia "pedir licença" para o negócio

Afinal a intenção já não é de agora: entre 1998 e 2005, quando Miguel Pais do Amaral era dono da Media Capital, a Portugal Telecom tentou comprar-lhe a TVI três vezes, contou ontem o empresário na comissão de inquérito. O empresário especificou depois ao PÚBLICO que a intenção da PT era adquirir a totalidade da Media Capital.

Porém, nunca chegaram muito longe. Das três tentativas, apenas uma se desenvolveu o suficiente para se rabiscar um term sheet (um pré-acordo). O empresário diz não se recordar de datas precisas, mas uma das negociações ocorreu "a seguir ao negócio entre a PT e a Lusomundo" (em Abril de 2000). E lembrou o calvário que passou para que a TVI entrasse no cabo como a SIC - o que Pais do Amaral nunca conseguiu.

Sendo certo que um term sheet (como o que Rui Pedro Soares levou a Madrid para apresentar à Prisa) já não é a fase "dos primórdios" do negócio, Pais do Amaral avisou que "dois operadores que sabem o que querem podem chegar a um term sheet muito rapidamente".

Os deputados da oposição quiseram sobretudo saber a opinião de Pais do Amaral sobre como se processa a informação entre empresas como a Media Capital e a PT e o Governo acerca de compras e vendas. O PS defendeu que estas audições se devem cingir aos factos sobre o negócio da TVI de 2009 e a "pessoas que directa ou indirectamente tenham a ver com eles".

Pais do Amaral contou que em 2005, quando vendeu a Media Capital à Prisa, informou o Governo "por cortesia, por achar normal, já que era a venda da posição de controlo de um grupo que detinha concessões do Estado, de TV e de rádio, a uma empresa estrangeira". A comunicação foi apenas "na fase final das negociações", mas não se recorda a quem a fez. E considera que se a PT, "a maior e mais poderosa empresa portuguesa", comprar uma quota minoritária na TVI não precisa de o comunicar - ele, "um modesto homem de negócios", também não o tenciona fazer se voltar a ser accionista da TVI. "Não estou a ver a gestão da PT pedir licença ao Governo para fazer o negócio", rematou.

Questionado pelo PCP sobre se o afastamento de Moura Guedes, em Dezembro de 2005, foi condição para fechar a venda à Prisa (como garantiu o jornalista da TVI Carlos Enes de manhã), Pais do Amaral frisou que a decisão surgiu quando já não tinha funções executivas na empresa. Mas reconheceu não ter ficado surpreendido, pois o grupo espanhol tinha um estilo editorial "mais sério e credível", no qual ela "não se enquadrava".