Guitarra sem mapa

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Bill Orcutt: é difícil, rugoso, feroz, características que não associamos à guitarra acústica

Aterrou em 2009 como um cometa: "A New Way To Pay Old Debts", disco do norte-americano Bill Orcutt, não furou além dos círculos mais marginais, mas merecia outra sorte. Talvez não seja, porém, esse o seu destino - é difícil, rugoso, feroz, características que não associamos imediatamente à guitarra acústica. Não andaremos longe da verdade se dissermos que há muito tempo que o instrumento não conhecia um disco assim. E não estamos sozinhos nesse elogio.

Orcutt, que actua hoje e amanhã no Porto e em Lisboa, respectivamente, não é um novato. Andou nos Harry Pussy, banda fundamental do noise rock dos anos 90, inspiração de meio "underground" norte-americano actual, dos Magik Markers a Chris Corsano. Depois de uma década de silêncio, eis o seu primeiro disco a solo. É um álbum sem gaveta na história da guitarra: podem-se referir a abordagem abstracta e intuitiva de Derek Bailey, as "ragas" de John Fahey e, claro, os Harry Pussy descarnados de electricidade, mas são meras referências numa música sem mapa, nem escola.

Gravado num quarto de um apartamento com meios primitivos (há autocarros e barulhos da rua a irromperem pelas peças), o álbum revela um guitarrista totalmente expressivo, mesmo violento na sua relação com o instrumento, uma velha guitarra que comprou em miúdo ligada a um amplificador encontrado na rua na década de 80. À guitarra, Orcutt retirou duas das seis cordas - técnica que já aplica desde 1985 -, obtendo um som cru, sem adornos. "Se a música que estou a tocar soa de forma intensa, não é porque esteja a tentar tocar 'hardcore'", disse ao "site" Foxy Digitalis. "É porque é isso que está dentro da minha cabeça".

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