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Polónia em estado de choque após a morte do seu Presidente

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Milhares de polacos prestaram homenagem a Lech Kaczynski REUTERS/Kacper Pempel

Acidente de aviação que mata dezenas de figuras de Estado traz ecos de outra tragédia histórica em Katyn, o assassínio das elites polacas pela polícia secreta soviética. Os polacos estão de luto, alguns desconfiados

Sem Presidente, sem cúpula militar, sem vários líderes de instituições civis e religiosas, a Polónia enfrenta a sua pior crise desde a II Guerra Mundial, disse ontem o primeiro-ministro, Donald Tusk. O estado de choque não impediu, no entanto, as autoridades de se apressarem a dar um sinal claro de um rápido regresso à normalidade política, militar e mesmo económica. A Polónia tem dois meses para escolher um novo Presidente.

A causa da crise foi a queda de um avião que levava o Presidente, Lech Kaczynski, junto com 88 convidados que assistiriam a cerimónias em Katyn, Rússia: vários chefes militares, dos serviços secretos, deputados do partido Direito e Justiça (PiS), o governador do Banco Central e ainda alguns líderes religiosos. O avião tinha um total de 96 passageiros e tripulantes.

Ainda que o Presidente fosse actualmente pouco popular, a escala da tragédia deixou os polacos de luto. Muitos colocaram bandeiras com faixas negras nas janelas, milhares saíram à rua para prestar homenagem aos mortos.

A Rússia já nomeou uma comissão de inquérito ao acidente que será chefiada pelo próprio primeiro-ministro, Vladimir Putin. As duas caixas negras do avião foram entretanto encontradas. Muitos polacos suspeitam do acidente - ocorreu na Rússia, com um Tupolev, um avião de fabrico russo. "As pessoas estão desconfiadas", disse a polaca Kamila Kasprzak à BBC News on-line. "Havia tantos responsáveis importantes naquele avião."

Putin e o Presidente russo, Dmitri Medvedev, foram os primeiros a enviar condolências ao Governo polaco, afirmou o primeiro-ministro, Donald Tusk. Na avalanche de reacções internacionais, a chanceler alemã, Angela Merkel, que tantas vezes discordou de Kaczynski, prestou tributo a um líder de convicções.

Tusk deslocou-se até ao local onde caiu o Tupolev que levava Kaczynski, em Smolensk, onde deveria encontrar-se com Putin, e anunciou que teria, no regresso, uma nova reunião de emergência com o seu Governo. "Um drama como este é inédito no mundo moderno", comentou o primeiro-ministro polaco, visivelmente abalado, de fato e gravata pretos.

Erro do piloto?

Eram colocadas várias hipóteses para a causa do acidente, de falha técnica (o avião tinha mais de 20 anos) às condições meteorológicas. Mas a mais repetida pelos media, que citavam fontes russas sob anonimato, era a de um erro do piloto.

Estaria nevoeiro sobre a pista e o Tupolev já tinha tentado aterrar quatro vezes, contra o conselho de controladores aéreos que recomendaram o desvio para Minsk. O avião terá embatido em copas de árvores antes de chegar à pista do aeroporto militar.

Segundo a Constituição da Polónia, a presidência será agora ocupada pelo líder da câmara baixa do Parlamento, Bronislaw Komorowski, do partido de Tusk, a Plataforma Cívica. Komorowski era já candidato declarado - e também o favorito - às eleições presidenciais de Outubro, que foram agora antecipadas e deverão decorrer daqui a cerca de dois meses.

Não se sabe se o seu irmão gémeo, Jaroslav, considerado o mais extremista dos dois, decidirá concorrer à presidência. "É também um duro golpe para o presidente do partido", Jaroslav, sublinhou à AFP a politóloga Lena Kolarska Bobinska, adiantando que espera uma campanha "calma e silenciosa, sem conflitos", à sombra do desastre.

Outra consequência será uma oportunidade para elementos mais novos do PiS assumirem funções mais relevantes, diz, num artigo no site da BBC, Krzystof Bobinski, presidente do think-tank pró-europeu Unia & Polska Foundation. "Muitos deputados do PiS morreram no acidente, o que pode abrir a uma janela para os mais novos no movimento, e isso poderá levar à sua revigoração." Não era no entanto claro se a onda de simpatia pela morte de Lech Kaczynski se traduziria em votos para o partido do irmão.

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