Sacos de plástico em guerra pelo título de "mais amigo do ambiente"
Oxo-degradáveis, biodegradáveis, vegetais? O consumidor não sabe, mas há um conflito entre quem oferece a solução mais ambiental
Para o consumidor, não importa. Plástico é plástico e, na hora de reciclar, vai tudo para o contentor amarelo. Mas, sem que o cidadão saiba, há uma guerra surda em curso por um título benigno: o de quem oferece a solução mais ecológica para os sacos de plástico dos supermercados.
De um lado, estão os promotores dos sacos oxo-biodegradáveis, que se fragmentam sob a acção de um aditivo, e que já estão em força em Portugal - por exemplo, na cadeia Continente e Jumbo/Pão de Açúcar. De outro, há os fabricantes de sacos biodegradáveis feitos de matéria vegetal, que têm encontrado dificuldade em conquistar o mercado. Preocupados com ambos, estão os recicladores.
A disputa não é recente, mas ganhou fôlego há três semanas, quando o Departamento de Ambiente do Reino Unido divulgou um estudo que conclui que os oxo-biodegradáveis não trazem vantagens ambientais. Isto porque o tempo para a sua degradação é longo e os sacos não servem nem para a compostagem nem para a reciclagem. A sua classificação como "100% biodegradáveis" poderá, assim, causar confusão, segundo o estudo.
O fabricante - a empresa britânica Symphony - reagiu, acusando o estudo de ter sido revisto por dois cientistas da área dos plásticos vegetais, mas nenhum da área dos oxo-degradáveis. E argumentou que o estudo não compreendeu que os oxo-biodegradáveis não têm de se degradar rapidamente, não se destinam à compostagem e não interferem com a reciclagem.
O tempo de vida útil desses sacos "é mais importante do que o tempo de degradação", afirma Thibaut Demoustier, responsável pela empresa que comercializa o produto em Portugal e Espanha. Os sacos estão programados para durar dois anos antes de começarem fragmentar-se. O processo pode ser mais rápido quando estão ao ar livre, que é o problema que os oxo-biodegradáveis se propõem resolver.
Actualmente, são colocadas em Portugal e Espanha cerca de 1000 toneladas mensais desse produto, o que equivale a cerca de 50 milhões de sacos contendo o aditivo para a sua fragmentação. Muitos vão parar ao ecoponto, o que preocupa os recicladores. "Desde que se começou a utilizar mais maciçamente o aditivo, começámos a ter alguns problemas", afirma Ricardo Pereira, da Associação de Recicladores de Plástico
A associação conclui que os sacos biodegradáveis tornam mais difícil a reciclagem, alterando as propriedades mecânicas do produto final. Thibaut Demoustier contesta, dizendo que a reciclagem implica sempre a utilização de estabilizadores, que anulam qualquer efeito dos aditivos dos oxo-degradáveis.
Os recicladores defendem que haja um circuito separado de recolha de plásticos biodegradáveis, fora dos ecopontos. A medida valeria também para os biodegradáveis vegetais, que não acrescentam nada à reciclagem. "São os piores", diz Ricardo Pereira.
Ironicamente, esta última seta aponta para uma área onde Portugal tem tecnologia própria. A empresa Cabopol, do Grupo Meneses, investiu quatro milhões de euros, nos últimos quatro anos, no desenvolvimento de um plástico biodegradável feito a partir de amido de milho. Os sacos cumprem as normas para as centrais de compostagem - ou seja, transformam-se em fertilizante em menos de seis meses. Podem ser utilizados, por isso, para a recolha de produtos orgânicos ou em aplicações agrícolas, dado que, segundo o fabricante, o plástico acaba por desaparecer em contacto com o solo, depois de alguns meses.
O produto começou a ser vendido no final de 2009 mas sobretudo fora do país. Em Portugal, "o mercado não mexe", afirma Rita Meneses, administradora. "Tudo o que vendemos são pequenas quantidades, para ensaios e campanhas." Há um factor que conspira contra os biodegradáveis vegetais: são mais caros. Por isso, a Cabopol espera que haja incentivos dado os benefícios ambientais que promete.
Carmen Lima, da Quercus, defende que os sacos biodegradáveis vegetais sejam de facto utilizados para recolha de matérias orgânicas, mas não como sacos de supermercado. Quanto aos oxo-degradáveis, "apenas devem ser utilizados em situações muito pontuais", diz. Para o cidadão, na dúvida, o melhor é utilizar sacos reutilizáveis.